segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

As raízes aéreas do flyfishing




        A analogia entre o fly e uma árvore é possível quando analisamos todo o complexo universo que o fly se transformou.
        A raiz é a sua essência e a origem da seiva bruta. É o que dá sustentação teórica e nutrição para todo o restante do organismo, sendo que o comprometimento do seu estado de saúde abalará o que ela sustenta, por isso, sempre será nosso ponto máximo de equilíbrio. Todos os nutrientes necessários para sua criação já estão incorporados e bem estabelecidos. Por sua vez, a raiz está enterrada e sofre pouca influencia do meio externo. Mas, se a sua memória se perder, o coração e a alma do fly se perderão.  
        Nos primórdios do fly, os seus primeiros praticantes formavam um tronco único e forte. Todos possuíam um objetivo comum: o desenvolvimento do flyfishing; crescendo juntos ao encontro da luz. Porém, com a globalização de sua arte, o fly ganhou novos horizontes e multiplicou seus adeptos. Seus primeiros galhos eram fortes e brotavam bons frutos e folhas.
        Alguns galhos novos desenvolveram sua própria autonomia, podendo influenciar na formação de seus frutos e folhas. Outros, cresceram distanciando-se dos seus galhos vizinhos, chegando a desconhecer que são originados pelo mesmo tronco. Estes, possuem grande carga teórica, consagrando-se como formadores de opinião, podendo contaminar, com sentimentos ruins, a seiva bruta que será levada as suas folhagens.

         As folhas, por sua vez, também possuem uma grande importância para todas as estruturas da árvore. São elas que realizam a fotossíntese, produzindo seiva elaborada que as nutrirão e que será distribuída para todo seu organismo. Esse feedback nutricional mostra a total relação de interdependência entre as partes da planta.
         Para nós, folhas, é muito bom crescermos ao céu, conhecer novos ares e adaptarmos nossas técnicas de acordo com o ambiente em que somos expostos. Isso é ótimo, mas pode não ser seguro, pois folhas podem ser arrancadas e galhos podem ser quebrados.
         O legal seria se tivéssemos todo conhecimento, proteção e segurança que possuem as raízes, mas que pudéssemos ver a luz do dia e respirar ar puro. Para isso, os vegetais desenvolveram as raízes aéreas respiratórias, que nada mais são do que raízes adaptadas ao seu ambiente, que crescem verticalmente e se desenterram, partindo em busca de oxigênio na atmosfera, mas que, ao mesmo tempo, nunca se desprendem das suas raízes originais, preservando, assim, sua essência.
         Os questionamentos são muitos para compreender todos os mecanismos fisiológicos de crescimento da árvore flyfishing. A questão é: Por maior que seja todo nosso respeito e admiração que temos ao fly puritano, como seria possível ele não sofrer nenhuma “modificação”/adaptação quando aplicado em um país como o Brasil, que possui uma diversidade de peixes, insetos, biomas, clima e relevo infinitamente maior e diferente do seu país de origem? Sem levar em conta do quanto nossa cultura é miscigenada, rica e linda.
        Possuímos o maior patrimônio biológico do mundo. Estão catalogadas em nossos seis biomas cerca de 55 mil espécies de plantas com sementes, 530 de mamíferos (com mais de 50 primatas), 1,8 mil aves, 800 de anfíbios, 680 de répteis e cerca de 3 mil de peixes. Mesmo com todos esses números, os pesquisadores mais respeitados estimam que apenas 10 % da zoologia brasileira é conhecida e estudada. Calcula-se que a cada ano no Brasil são descobertas cerda de 1,5 mil novas espécies, sendo que nesse ritmo, dizem eles, que precisaríamos de 800 mil anos para conhecer toda nossa biodiversidade.
        Voltando a nossa árvore. É claro que a base concisa da formação de um bom mosqueiro está nas técnicas originais e qualquer adaptação ao ambiente que ele esteja inserido não deve ferir a sua essência. É insubstituível o bom conhecimento teórico de nossas raízes, pois não existe prática sem teoria.
         Só espero que essas adaptações sofridas, seja por necessidade ou por uma vontade do pescador em agregar novos valores em seu ambiente de pesca, não sejam interpretadas como brincadeiras ou desrespeito às raízes do fly ou aos demais galhos e folhas que compõem nosso sistema.
         Nosso clima quente mantém alta a temperatura de nossas águas, consequentemente eleva o metabolismo de nossos peixes, forçando-os a se alimentarem com maior frequencia. A diversidade de insetos é tanta que chega a confundir o mosqueiro mais experiente sobre qual mosca ele deverá atar em seu tippet. Mas não se preocupe, pois essa grande entomodiversidade brasileira também confunde o próprio peixe insetívoro, deixando-o menos seletivo. Além disso, a competição alimentar nos cardumes de águas tropicais deixará o peixe mais espontâneo aos ataques das moscas. Portanto, aqui é o lugar para criar, descobrir, mergulhar, desfrutar dos nossos biomas, adaptar técnicas, agregar novos valores e desenvolver nossas próprias moscas, seja com espinho de paineira ou fibra de molongó. Sempre estaremos grudados no tronco dessa incrível e alucinante árvore chamada flyfishing. Divirta-se!






Feliz 2010! Equipe GO FLY!

Por: Leandro Vitorino
Fotos: Saymon Catoira

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Por uma pescaria sem farpas.


Ainda me lembro do impacto causado pelas primeiras exibições do programa Pesca e Companhia com o Rubinho. O pesque e solte deixava muita gente revoltada! Até então a “educação de pesca” que recebíamos era altamente predatória. O objetivo das pescarias era “encher as caixas” e trazer peixe para toda a vizinhança. Aquele pescador/apresentador começou a mudar os rumos da pesca no país. Foi por meio dele que vi pela primeira vez o tal do “fly”.
Um fator que me chamava a atenção – além da soltura do peixe – era a utilização de anzóis sem farpa. Realmente é uma prática que faz todo sentido. Oras! Se estamos praticando a pesca esportiva, quanto menos o peixe sofrer melhor será! Mas amassar a farpa não é algo tão simples assim.
Encontrar bons peixes está cada vez mais difícil. As viagens estão ficando longas e caras. Poucos querem correr o risco de aplicar uma boa quantia de dinheiro para ver o “peixe troféu” escapar. Repare nos programas de pesca que passam na sua região. Quase não se fala mais em amassar as farpas! Repare também quando os pescadores vão retirar os anzóis da boca dos peixes. Pela dificuldade garanto que estão usando farpa! Não interessa se é micro ou não, ela está lá! Crave um anzol com microfarpa na sua pele e tente retirá-lo!
Apesar de estar fazendo essa análise, confesso que demorei a aderir tal prática. Para ser mais preciso o meu “dia D” foi em março de 2005. Após um acidente com isca artificial – ainda não pescava com mosca – um anzol de uma das garatéias entrou no meu braço. Foi realmente uma luta para tirar aquele maldito gancho do meu braço. Desde então todos os meus anzóis tem suas farpas amassadas.
Com o fly a situação é mais complicada pois as moscas passam com muita freqüência próximas ao nosso corpo – o uso de óculos torna-se obrigatório, por mais incômodo que seja. Quando se pesca acompanhado o perigo aumenta. Se você não importa consigo mesmo, preocupe-se em não machucar seus parceiros! Já me habituei a amassar as farpas antes de atar as moscas. Tenho inclusive adquirido alguns anzóis de moscas secas já sem farpa.
Vejo dessa forma duas razões que levam um pescador a amassar as farpas: a primeira, mais nobre, é justamente pela pesca esportiva, pela preocupação com o peixe; a segunda, altamente egoísta, pela sua própria segurança, mas que também irá resultar no mesmo fim da primeira. Escolha a sua, não importa qual, mas escolha!
Achei interessante colocar esse vídeo abaixo. Para aqueles que estão se esquecendo da primeira escola de pesca esportiva brasileira, vale à pena lembrar!





Rafael Pacheco


sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O porquê do GoFly.






É com grande satisfação que se nota a expansão da pesca com mosca no Brasil. Partindo de um início difícil o esporte hoje é difundido com o apoio da internet, mas mesmo assim não dispensa o encontro real entre seus participantes.
Pensar em flyfishing nas décadas de 40, 60, é algo inconcebível para muitos de nós. Em uma época sem internet, conseguir informações sobre a modalidade, assim como materiais e equipamentos era possível apenas para poucos. Tudo dependia de alguém que viajasse ao exterior e trouxesse a tralha completa. Com toda a parafernália na mão surgia outro grande problema: como aprender a pescar com aquilo? Cursos? Só no exterior! Realmente temos que tirar o chapéu para os pioneiros dessa pescaria no país.
Com a popularização da  internet o cenário mudou completamente. Hojé é possível, sem sair de casa, comprar material de qualquer parte do mundo – inclusive no Brasil. Os livros sobre o assunto são muitos, porém em português ainda estamos restritos à maravilhosa obra de Paulo Cesar Dominges da Silva, o livro Pescando com Mosca. Os vídeos nos ensinam a fazer praticamente tudo, do atado às técnicas de arremesso. Os fórums possuem um incrível acervo de material capazes de sanar a maioria (ou até todas) as dúvidas dos iniciantes.
Por outro lado, as inúmeras facilidades trazidas pela modernidade e a gama de informações por ela viabilizadas podem levar erroneamente muitos a pensarem que o grande professor de pesca com mosca será uma tela de computador. No esporte em que a observação é fundamental, muito se aprende com os mais experientes. Foi com esse raciocínio que nasceu o GoFly.
O grupo é uma forma de unir os novos adeptos da modalidade no Estado de Goiás viabilizando um grande fluxo de troca de experiências, as quais contribuem significativamente para o aprendizado da pesca com mosca. De forma alguma se deseja a criação de laços comerciais e burocráticos. O grupo quer ter como pilares a amizade, o respeito ao meio ambiente e a paixão pelo flyfishing.
O blog GoiásFly (GoFly) é um meio de mostrarmos o quão fascinante é essa modalidade, além de expormos o nosso ponto de vista sobre os temas que envolvem nosso esporte. Vale à pena lembrar que unanimidades são raras e quando pessoas são reunidas temos sempre opiniões divergentes.
                  Sintam-se à vontade! Bem vindos ao GoFly.
 Rafael Pacheco