sábado, 25 de dezembro de 2010

POR UMA PESCA SEM PRECONCEITOS

              Por Leandro Vitorino
Antiga pesca da traíra de lagoa, praticada pelo sertanejo da região norte do país com vara de guatambú. Foto-Leandro Vitorino

 
     Até poucos anos atrás a pesca era encarada como uma mera distração por parte dos amadores. Seus vários conceitos técnicos modernos se encontravam monopolizados por um grupo seleto de pescadores que investiam em cursos no exterior ou que buscavam importar uma literatura mais refinada para aprimorar sua modalidade preferida. Esses pioneiros que buscaram os primeiros conhecimentos devem sempre ser lembrados e colocados em lugar de destaque. Porém, hoje, com o avanço dos vários meios de comunicação, tendo como carro chefe a internet, esse monopólio foi parcialmente quebrado.

    Pesca de piau no barranco com vara de bambú. Foto: Leandro Vitorino
       Vários pescadores que se encontravam isolados geograficamente dos grandes centros de informação ou que estavam impossibilitados de investir tempo e ou dinheiro em viagens e cursos, buscaram a internet como principal fornecedor de informações. Ser um pescador autodidata através desse veículo possui seus riscos e benefícios, mas é possível. Entretanto, um bom curso interpessoal encurta bastante nossa curva de aprendizado e nos corrige vícios errados que possam ser adquirimos quando tentamos aprender “sozinhos”.

Pesca da rara e ameaçada Pirapitinga-do-sul, caminhando pelo rio, utilizando equipamento de mosca. Foto: Leandro Vitorino

     Em apenas 24 horas é possível circular pelo mundo qualquer informação técnica desenvolvida por um pescador. Isso sim que é globalização. Dando um breve passeio por sites, blogs e fóruns do meio pesqueiro observaremos o grande fluxo de informações compartilhadas entre os seus participantes. Cada um deles possui uma peça do quebra cabeça e através da união conseguem construir e compreender o cenário do mundo da pesca. Esse intercâmbio auxilia muitos à se aperfeiçoarem tecnicamente e os orientam quando e onde devemos pescar, ajudando também na formação de grupos, equipes, federações e muitas vezes boas amizades, além de fortalecer o esporte da pesca.



     As inovações são quase que diárias e são “devoradas” pelos fanáticos pescadores que estão em constante ligação com essa rede mundial de comunicação.

     Relembrando o pensamento do famoso mergulhador brasileiro Paulo Pacheco: “Às vezes me pergunto por que tantas pessoas vivem da pesca, numa total dependência? Talvez seja porque esteja gravado em nosso material genético o instinto da caça e pesca, herdado de nossos ancestrais, que buscavam, através dela, o seu próprio meio de sobrevivência”. Essas são palavras que talvez expliquem um pouco da nossa admiração incessante pela pesca, só que agora ela adquiriu uma nova roupagem: a consciência ambiental. Através da fusão entre essa memória genética e o pensamento de conservação nasceu a pesca esportiva.

Pesca do tucunaré azul no sudeste com mosca, no estilo flydiving. Foto: Cassio Andrade

     Existem múltiplas formas de se chegar até o peixe e devolvê-lo com vida ao seu habitat, seja através de uma simples linhada de mão com os pés no chão ou através de equipamentos ultramodernos de captura em cima de uma embarcação de última geração.

     Baitcasting, pesca com mosca, Tenkara, vara de mão, iscas naturais ou artificiais abrem caminhos na infinita estrada de possibilidades que interligam homens e peixes. Todas as modalidades devem ser respeitadas e possuem sua devida importância. Para um pescador eclético que busca aprender e preservar as várias modalidades sem descriminações, conscientemente, ele saberá que em cada situação de pesca existe uma que se sobrepõe as outras, seja em grau de eficiência de captura ou em grau de satisfação pessoal.

Macho alfa de Tucunaré azul fotografado durante flydiving. Foto: Leandro Vitorino

     Podemos inclusive mesclar modalidades sem ferir o principal lema da pesca esportiva: a preservação da vida do peixe. Quando se pesca para si próprio e não para os outros, não devemos ter preconceitos nem vaidade. Quando observo alguém lutando com um peixe na linha, meu primeiro olhar não é para o equipamento do pescador ou para o tamanho do peixe, mas sim para a expressão facial da pessoa e o quanto aquilo lhe proporcionou prazer. O sentimento transmitido através da leitura corporal do pescador contagia e faz sentirmos, conjuntamente, grande parte daquela emoção.




     Levando em consideração do quanto nossa cultura é miscigenada e rica, seria possível que as várias modalidades de pesca existentes no mundo não sofressem nenhuma modificação ou adaptação quando aplicadas em um país como o Brasil, que possui uma diversidade de peixes, biomas, clima e relevo infinitamente distintos do seu país de origem? Acredito que não. Portanto, aqui é o lugar para criar, descobrir, mergulhar, desfrutar dos nossos biomas, adaptar e mesclar técnicas, agregando novos valores e desenvolvendo nossos próprios conceitos, assumindo assim uma identidade própria.

Pesca com mosca, estilo Vadeio. Foto: Leandro Vitorino

     Divirtam-se!



Leandro Vitorino (GO FLY)