EXPLORANDO A CABECEIRA DO RIO CORUMBÁ
Texto: Leandro Vitorino
Fotos: Luiza Dornfeld e Leandro Vitorino
Texto: Leandro Vitorino
Fotos: Luiza Dornfeld e Leandro Vitorino
A cabeceira do Rio Corumbá possuiu uma grande importância socioeconômica em diferentes épocas. No século XIX o audacioso minerador francês Bernard Alfred d`Arena desviou o Rio Corumbá por um canal artificial até o córrego Rasgão, secando o imponente paredão do Salto Corumbá, de 50 metros de altura, e seu poço de 15 metros de profundidade. Toda essa ambiciosa engenharia foi realizada para extrair o ouro contido em seu poço. A ausência da água no seu leito facilitou a retirada de grande quantidade de ouro que foi transportado para Europa. Durante mais de um século esse trecho de sua cabeceira juntamente com o Salto Corumbá perderam a sua água e seu encanto. Só em 1988 essa lamentável tragédia foi revertida, devolvendo a água e a vida ao seu leito original.
Aproximadamente a 15 km rio abaixo foi construído a primeira hidroelétrica de Goiás, que atualmente encontra-se desativada.
Há duas semanas, eu, minha esposa Luiza e o amigo Renato, de Anápolis, seguimos rumo a essa cabeceira, no próprio município da cidade de Corumbá.
O "Pouca-família" pronto para o mergulho no Corumbá
Até então, não havia capturado nenhuma pirapitinga da Bacia do Paraná. Só conhecia as pirapitingas do Tocantins, o que me gerou uma ansiedade de principiante nesta aventura.
O Rio Corumbá (Bacia da Prata) nasce na Serra dos Pireneus, a poucos metros da nascente do Rio das Almas (Bacia do Tocantins). A região é, portanto, divisora de águas e consagrada pelo relevo montanhoso recortado por inúmeras nascentes dessas duas bacias. A proximidade dessas bacias e a presença de algumas espécies de peixes em comum, típicas de cabeceiras, nos fazem pensar em um intercâmbio dessas espécies em eras geológicas passadas, em que essas bacias poderiam estar unidas hidrograficamente na região.
Todo esse importante e histórico cenário nos recebeu com sua energia que podia ser sentida com imensa magnitude através de um breve passeio no seu visual.
Entre as águas do Salto Corumbá e a Cachoeira do Ouro brincamos com uma boa quantidade de lambaris e piabas no fly. Drys #20 e bead head #18 foram as mais utilizadas e eficientes.
Paramos para o almoço num rústico e agradável restaurante local, fazendo uma pausa para o descanso. Estávamos totalmente desanimados pela falta de ações de pirapitingas.
Mas como a persistência é amiga do sucesso, descemos a Cachoeira do Ouro onde pudemos sentir os primeiros trancos secos dos nossos procurados tesouros.
Em menos de uma hora tivemos quase quinze ações e sete batalhadas bem sucedidas, recheadas de belos saltos acrobáticos da nossa conhecida Brycon nattereri (Pirapitinga-do-sul da Bacia do Paraná/ Tocantins/ São Francisco).
Logo que pus as mãos na primeira pirapitinga já observei um diferencial anatômico daquelas que capturei na Bacia do Tocantins. Vi que as pirapitingas do Corumbá possuem a cabeça mais afilada e a boca mais comprida. O isolamento geográfico e adaptações ao habitat geram essas diferenciações, mesmo se tratando da mesma espécie. Além disso, percebemos um comportamento mais piscívoro, atacando com agressividade também os Spinners e Cranks de uma tralha de Baiting que levei para minha esposa tentar as tabaranas. Infelizmente os dourados e as tabaranas daquele trecho foram totalmente dizimados por moradores locais, e hoje em dia só ocorrem abaixo dessa antiga barragem (+- 15 km abaixo de onde estávamos), segundo pescadores experientes da região.
Utilizamos moscas maiores para evitar o excesso de ataques dos juvenis, que são muito freqüentes nesta época pós-desova. Mais uma vez a wet fly “Pouca-família” mostrou-se eficiente também com as pirapitingas da Bacia do Paraná.
O amigo Renato derramava satisfação de seus olhos nas capturas dos bravos Brycons.
Fica aqui cravada também a marca do GO FLY por esse rio apreciado por indígenas e historicamente cobiçado por tantos desbravadores.