terça-feira, 12 de abril de 2011

FLYDIVING: esportividade e conhecimento dos ecossistemas aquáticos

Por: Leandro Vitorino



   Esse é um estilo que nasceu de forma despretensiosa, alimentado por um sonho de moleque, no qual desejava unir minhas duas maiores paixões: a pesca e o mergulho em apneia de observação. Sempre fui tão ligado a água que nem me lembro de quando não sabia nadar. Durante a infância, no Mato Grosso e Goiás, costumava ficar dentro d’água por horas e horas, dentro de córregos ou atolado em algum brejo por aí.



    No mês em que se celebra o dia mundial da água, nada mais apropriado do que apresentar esse estilo de pesca que faz com que o pescador interaja de forma plena ao ecossistema aquático: o FLYDIVING. Nosso clima tropical juntamente com a presença de vários rios de águas claras, torna-se um ambiente perfeito e convidativo para esta prática.
   O Flydiving exige do pescador-mergulhador o domínio de técnicas de mergulho, como os exercícios de apneia e aproximação aos peixes, além de conhecimento sobre a modalidade que se pretende utilizar para a pesca (baiting ou fly, por exemplo).

MATERIAIS UTILIZADOS:


   É necessário equipamentos de mergulho livre como máscara, snorkel, nadadeira, faca de segurança e roupa de neoprene, sendo que todos devem estar adequados ao ambiente que se esteja mergulhando.
   Os acessórios de pesca são transportados numa prancha de Body board que é presa a uma corda flutuante e conectados ao lastro de mergulho, sendo que esta corda poderá ter comprimento variável, de acordo com a profundidade que se mergulha. O lastro de chumbo que arrasta o conjunto pode se desprender facilmente da cintura e ainda serve como poita para a prancha.

   
     Varas mais longas facilitam o arremesso quando estamos com a água a nível da cintura ou do tórax. No fly recomenda-se varas acima de 9’ de comprimento, já no baiting, uma vara a partir de 5’8” estará adequada. Recomendo levar os dois equipamentos (bait e fly). Costumo usar linha flutuante no equipamento de fly para os ataques na superfície e utilizo o baiting para trabalhar iscas de fundo, como cranks e jigs. Dessa forma, posso curtir essas duas modalidades e trabalhar minhas iscas em profundidades diversas.
    As iscas devem estar preferencialmente contidas dentro de estojos impermeáveis que por sua vez deverá estar preso na prancha, assim como os demais acessórios como alicates e máquina fotográfica com caixa ou bolsa estanque.

DICAS BÁSICAS DE APNEIA:

1- Mantenha sempre um nado silencioso, evitando retirar os calcanhares da água durante as pernadas;

2- A hiperventilação deve ser evitada, pois transmite ao apneísta uma falsa sensação de boa oxigenação, podendo ser, portanto, perigosa;

3- Movimentos respiratórios amplos e lentos são os mais seguros durante a recuperação na superfície e também deve estar associado a um bom relaxamento mental e concentração na respiração;

4- Técnica: Antes da imersão faça de uma a duas expirações forçadas, no intuito de reduzir ao máximo o espaço morto dos pulmões, em seguida, faça uma respiração Pranayama, inspirando profundamente do abdome para o tórax, elevando-se os ombros em direção póstero-superior (para que se aumente o volume do ápice pulmonar) e, por fim, mergulhe;

5- Durante a imersão, faça uma penetração com o mínimo de ruído possível, chegando ao fundo de forma lenta, como se fosse uma folha caindo suavemente;

6- O tempo de apneia é um fator pessoal, sendo melhorado com o treinamento da apneia e tem como grande fator influenciador o estado emocional do atleta;

APROXIMAÇÃO AOS PEIXES:


  

     A melhor forma de aproximação à maioria dos peixes é a espera no fundo, pois os peixes se sentem mais ameaçados quando estamos acima de seu nível de profundidade. Ao imergir, tenha em mente que a iniciativa de aproximação deve partir do peixe e não do mergulhador. Não faça movimentos bruscos e evite olhar diretamente nos olhos do peixe. Evite o toque das nadadeiras em pedras e troncos submersos. Realizar a manobra de descompressão dos ouvidos próxima ao peixe também poderá espantá-lo.

A PESCA:


   
     O mergulho pode ser feito em várias profundidades, mais para se pescar o mergulhador deve direcionar-se a locais mais rasos e espraiados, o que permitirá os arremessos dentro d’água.



   
     Lembre-se que o mergulho não deve ser praticado sozinho, mesmo com um bom conhecimento do local. Em algumas situações um barco de apoio também se faz necessário. O praticante deve manter uma distância segura do outro colega para prestar socorro caso seja necessário, porém não tão perto para que não afugente os peixes do companheiro.





  
     Após contemplar e estudar o comportamento dos peixes afaste-se vagarosamente até um ponto de apoio, pegue seu equipamento de pesca na prancha e inicie os pinchos. Você poderá ser surpreendido por um belo peixe que você já havia observado antes no mergulho. É exatamente esse o objetivo desse estilo: interação total com o ambiente e satisfação máxima do pescador. A intenção não é buscar o aumento da produtividade da pesca, absolutamente, pois algumas vezes a presença do mergulhador poderá inibir o ataque do peixe à isca ou até mesmo afugentá-lo para bem longe. Outras vezes, a falta de uma estrutura próxima para nos apoiarmos também compromete os pinchos e como todo esporte, o flydiving também possui suas limitações. Portanto, se a preocupação do pescador for apenas com a produtividade das capturas, aconselho-o que permaneça embarcado.





Conhecimento, pesca esportiva e satisfação pessoal...

   
    O mergulho em apneia nos faz viajar no mundo subaquático, além disso, a localização e a observação dos peixes por si só já provoca uma enorme satisfação, independente das capturas. Enriquecida pela pesca esportiva, essa modalidade fascina e atrai o seu praticante para um amor eterno! Ela pode ser praticada para todas as espécies que sejam possíveis de capturar com equipamento de fly e ou baiting, desde pequenos lambaris até grandes tucunarés.

  
    A natureza tem sua própria energia, que é transmitida ao flydiver que possuir a sensibilidade de senti-la! Descobrir as várias formas de vida que habitam o meio aquático, desvendando a beleza viva que há dentro de cada uma delas, reforça nossa energia vital e faz com que entremos num equilíbrio harmônico com tudo que nos cerca.





   
    Além da localização dos cardumes, devemos identificar as principais presas naturais de nossos alvos presentes naquela área para utilizarmos a isca mais adequada possível. Mesmo não sendo um predador tão seletivo, o tucunaré apresenta um maior índice de ataques quando as iscas se aproximam em semelhança com suas presas naturais, aumentando assim, o número de capturas.


Alguns encontros fascinantes...




     Em algumas pescarias pude ter o prazer de mergulhar ao lado de grandes surubins, dourados e trairões, entre outros peixes incríveis. Pude filmar e fotografar enormes tucunarés azuis e amarelos em seus ninhos e outros passeando com seus filhotes. Aquela “nuvem” de filhotes, contendo milhares de peixinhos protegidos pelo imponente casal de “azulões”, é capaz de sensibilizar a alma de qualquer pescador. Neste caso, é importante que o pescador não lance suas iscas sobre os casais no ninho ou com filhotes, evitando que a captura comprometa o futuro de sua prole. Portanto, contente-se apenas com a linda cena que, com certeza, muitos gostariam de ter a oportunidade de assistir. Saiba que o protagonista da pescaria é o peixe e não o pescador. Com tamanho espetáculo da natureza somos meros coadjuvantes e sinta-se feliz por isso!





DICAS DE PRESERVAÇÃO:

   Se ocorrer a captura de um grande exemplar e seu parceiro estiver longe para fotografá-lo, você poderá transportá-lo em um viveiro preso a prancha até o momento do registro. Mas nunca deixe sua vaidade comprometer a integridade física do animal. Solte-o antes da foto caso necessário, de preferência o mais próximo possível do local da captura. A natureza agradece e, com certeza, ela te presenteará com novas oportunidades.
   Observar casais de tucunarés no seu ninho ou vigiando seus filhotes não é fácil, exigindo do mergulhador uma aproximação mais cautelosa. Além disso, a aproximação rápida ao ninho poderá espantar o casal e expor seus ovos aos predadores que estiverem próximos. Portanto, cuidado!

A ESSÊNCIA DO FLYDIVING:

   
    Aqui não é necessário ser o melhor apneísta, o “senhor” flyfisherman, tão pouco o “doutor” biólogo ou o melhor flytier. Essa é uma modalidade guiada pela sensibilidade e interpretação do meio-ambiente. O próprio flycasting e o baitcasting juntamente com os encantos do mergulho já conseguem gerar formidáveis emoções. O peixe passa a ser apenas mais uma conseqüência agradável.

   
    A sua essência não é composta de vaidade ou de sensacionalismo, apesar de tudo parecer incrível. A receita é possuir alguns requisitos técnicos e estar disposto a se entregar a mais perfeita criação divina: a natureza. A criatividade de cada pescador faz com que essa modalidade tome várias formas e destinos diferentes.

  
    Aos poucos a barreira do medo vai sendo superada e transformada em conhecimentos sublimes, que enriquecem a aura do pescador. O equilíbrio entre mente, corpo e natureza, nos leva a um estado de paz espiritual profundo e ao autoconhecimento, que nos faz sentir completamente serenos.

   
    Lembre-se: temos um país com condições climáticas perfeitas, com a mais diversificada fauna e flora subaquática do mundo. Por isso, acredito que experimentar esse esporte seja mais uma forma interessante de pescarmos e agregarmos novos conhecimentos.
    Curtam o Flydiving!

OBS: Esse conteúdo pode não representar a opinião global do GO FLY, portanto qualquer crítica ou sugestão deve ser direcionada apenas ao autor.