Texto: Juninho Dante (SP)
Fotos: Arquivo Juninho Dante, Ricardo Padovan e Leandro Vitorino
Cardume de tilápias Rendallis nas represas do Sudeste. Foto: Leandro Vitorino. |
BIOLOGIA DA ESPÉCIE NO BRASIL
Rendalli em meio a vegetação (Alodea). Foto: Leandro Vitorino |
De
origem africana, a Tilapia Rendalli é
uma espécie de peixe da família Cichlidae, podendo ser encontrada naturalmente
em países como Burundi, Quênia e Tanzânia. A sua reprodução precoce (a partir
dos seis meses de idade), associada a múltiplas desovas anuais e sua enorme
adaptabilidade a ambientes lênticos, fez com que rapidamente a Rendalli
estabelecesse um vasto território no Brasil.
A
Rendalli, também denominada Tilápia-do-Congo, Tilápia-preta ou Tilápia-coquinho,
foi introduzida no Brasil em meados de 1952. Tem hábito alimentar onívoro
oportunista, com tendência herbívora, alimentando-se principalmente de plantas
aquáticas como a Alodea brasileira, também não dispensam insetos aquáticos e
terrestres, pequenos crustáceos (camarões) e pequenos peixes. Seu rico cardápio
logo nos desperta para sua enorme potencialidade mosqueira.
Tilápia Nilótica escondendo seus alevinos na boca. Foto: Leandro Vitorino. |
Fêmea de nilótica e seus filhotes. Foto: Leandro Vitorino. |
Por
não ter se mostrado tão atraente para a piscicultura no Brasil quanto à tilápia
nilótica, a Rendalli acabou sendo “descartada” de forma intencional ou
acidental em várias Bacias, principalmente nas regiões sul, sudeste e
Centro-Oeste, se concentrando principalmente nos reservatórios das represas de
hidroelétricas.
Macho de tilápia nilótica. Quando esta maduro sexualmente possui uma cor branca. Foto: Leandro Vitorino. |
Hoje, a pesca da
Tilápia Rendalli em ambientes selvagens brasileiros é alvo cobiçado por muitos
pescadores, seja na pesca com iscas naturais ou artificiais nas modalidades de
baitfishing e flyfishing (pesca com mosca).
Sua musculatura forte faz da Rendalli uma boa brigadora. Foto: Juninho Dante. |
O Net ajuda no embarque do peixe, evitando acidentes com seus espinhos das nadadeiras. Foto: Juninho Dante. |
Desconfiada e
extremamente arisca, as grandes Rendallis exigem expertise do pescador, fazendo com que a pesca com
mosca se emoldure numa técnica incrível e cheia de artimanhas.
A
pesca com mosca vem ganhando inúmeros adeptos no Brasil seja por sua
plasticidade envolvente, afinamento técnico ou por conectar seu praticante de
forma mais íntima à natureza. Por esses e outros motivos, o enobrecimento da
pesca com mosca em nosso país, não poderia deixar de fora a formosa Rendalli.
PONTOS DE PESCA
Capim submerso em áreas espraiadas são excelentes pontos de Rendalli, além de permitir mosquear caminhando (vadeo). Foto: Juninho Dante. |
Nossas considerações
sobre os pontos de ocorrência dessa espécie bem como a técnica aplicada na sua
pesca com equipamento de mosca não tem a pretensão de serem completos, nem de
estabelecerem regras inflexíveis, mesmo porque entendemos que o mosqueiro
brasileiro está em constante metamorfose, por isso, assumimos uma postura
consciente de busca incessante por conhecimento, sem subestimar nenhuma nova
informação. Mas, ao mesmo tempo, reconhecemos que nossa bagagem na pesca com
mosca da Rendalli nos forneceu uma considerável familiaridade com esse peixe, o
que já nos permite dissertar importantes conceitos, muitos destes indispensáveis
ao mosqueiro que busca por essa espécie em águas tupiniquins.
Os bons
resultados na pesca das Rendallis estão ancorados em anos de observações
atentas em seu ecossistema selvagem, principalmente nas represas do estado de
São Paulo e Minas Gerais. Temos nos
empenhado tanto na pesca embarcada (caiaque) como barranqueando (vadeo).
Já exploramos boa parcela das represas do interior de São Paulo e algumas de Minas Gerais a procura dessa tilápia, onde fizemos nossas moscas “voarem” intensamente.
A beleza das represas complementa a harmonia
mosqueira na busca pelo peixe. A calmaria do ambiente se entrelaça com a ânsia
de captura da astuta tilápia na mosca, modalidade esta que até pouco tempo
atrás se restringia às trutas.
Estruturas como troncos submersos são pontos quentes para que a Rendalli tome a sua mosca seca. Foto: Juninho Dante. |
Pelos
e a plumas atadas artesanalmente num anzol toma a forma de mosca, que lançadas
por equipamentos leves de fly incorporam maior esportividade e satisfação a
quem se entrega a essa aventura apaixonante.
Dotado
de um instinto indígena, o pescador se aproxima do ponto de ação do peixe de
forma mais silenciosa possível, tomando o cuidado para não afugentá-las. A
imperceptibilidade ao peixe torna-se estratégia imprescindível para efetivar
uma captura de uma boa Rendalli.
Para
muitos a imagem abaixo passaria despercebida, sendo apenas uma ave a beira
d´água, mas para o mosqueiro observador, a presença desta espécie é um
indicador de peixes, podendo ser um ponto quente de tilápias.
A presença de aves piscívoras em busca das tilápias juvenis acaba por denunciar locais propícios de tilápias adultas que também acabam dividindo a mesma área. Foto: Juninho Dante.
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As tilápias constroem
seus ninhos em drops ou em raseiras espraiadas, sendo que os ninhos de tilápias
nilóticas tem o formato de uma grande bateia e as de Rendallis buracos mais
irregulares, porem também arredondados.
Ninho de Tilápia Rendalli. Os buracos são cavados pelo casal. Foto: Leandro Vitorino. |
Os ovos de Rendalli geralmente são colocados fora dos buracos, para ficarem mais expostos ao sol e acelerar o tempo de eclosão. Foto: Leandro Vitorino |
Após o nascimento, os buracos feito pelo casal de Rendalli serve de esconderijo aos alevinos. Foto: Leandro Vitorino. |
As nilóticas não formam
casais fixos por longo tempo, já as Rendallis formam casais duradouros, sendo
mais territoriais e possuem forte instinto de proteção parental de sua prole, o
que a torna mais pescável na mosca do que a tilápia nilótica.
Os braços rasos de
represa com vegetação inundada são excelentes pontos para capturá-las e na
maioria das vezes são deixados de lado pelos pescadores em função da pequena
profundidade. A presença de comida farta atrai os cardumes para estas regiões. Locais como estes são
ricos em pequeninos peixes forrageiros, camarões e insetos aquáticos que
compõem o cardápio das tilápias.
Camarão em meio a vegetação (Alodea e lodo). Foto: Leandro Vitorino. |
Caddisfly (Trichoptera) à deriva, recém eclodida. Foto: Leandro Vitorino. |
Os locais mais
profundos com árvores frutíferas na margem também devem estar na lista de
pontos promissores. A observação se faz necessária do começo ao fim da pescaria
para que o mosqueiro eleve sua capacidade interpretativa do ambiente de pesca.
O baixo do nível das represas nos períodos de seca nos mostra como é a topografia das margens, permitindo estudar os pontos promissores em épocas de cheia. Foto: Juninho Dante. |
A troca de experiências, a oportunidade de conhecer outros pontos de vista e o reconhecimento dos erros de estratégia de pesca alinham os amigos em um bom papo mosqueiro, que naturalmente fortalece as amizades e amadurece o conhecimento de todos.
As desembocaduras de
riachos que nutrem as represas também são pontos de excelência para tilápias,
pois carreiam alguns de seus alimentos suspensos na água ou a deriva,
representando um local para os peixes se banquetearem.
Mosqueando nas rasuras das ilhas. Foto: Juninho Dante. |
A famosa "Cara de Kombi" dando alegria ao mosqueiro na mosca seca. Foto: Juninho Dante. |
Extremamente arisca, a pesca das "tilaponas" com mosca seca exige muito do pescador. Foto: Juninho Dante. |
Embora muitos
mosqueiros utilizem as ninfas para pesca de tilápia com sucesso, são nas moscas
secas que conseguimos o maior número de capturas, juntando o útil ao agradável. A possibilidade de visualizar o ataque sutil
do peixe na mosca na flor d’água é impagável.
Além
da escolha dos pontos de pesca como citado acima, variáveis como: tamanho e
tipo da mosca, apresentação, trabalho da isca, espessura de tippet, tamanho de líder,
distância de arremesso em relação ao ponto e condições climáticas são vertentes
que devem ser levados em conta pelo mosqueiro para obter sucesso na pesca.
O fisgar de uma rendalli na mosca seca em uma clássica vara de fly feita em bambu, transmite ao
mosqueiro uma sensação indescritível e envolta por prazeres. O arremesso suave
do bambu permite um pouso perfeito da mosca que em poucos segundos é sugada
pela valente Rendalli.
Dá-se inicio então a uma batalha onde a técnica do pescador em não
deixa-la correr para as estruturas se contrasta com grande facilidade em
envergar do bambu. Mesmo sendo um peixe de pequeno porte, consegue arrastar o
caiaque por bons metros, mas toda dificuldade encontrada é logo esquecida
quando se tem o alvo do dia nas mãos.
A pesca predatória
vem ano a ano reduzindo a população não só das tilápias, como de todas as
espécies presentes. É dever do pescador esportivo preservar e encabeçar a luta
pela sobrevivência das espécies. O pesque e solte é fundamental para a preservação dessa espécie que sofre com a pesca predatória desenfreada em nossas represas.
Equipamentos
utilizados
Varas:
As varas de numeração entre #2 e #4 são as mais indicas nos tamanhos de 6,6 a 9 pés.
As varas de numeração entre #2 e #4 são as mais indicas nos tamanhos de 6,6 a 9 pés.
Linhas e Carretilhas:
Diante de um
comportamento arisco como das tilápias, as linhas com peso à frente (WF),
flutuantes (Floating) e que permitem uma apresentação suave da mosca são as
mais indicadas. As linhas WF, facilitam o arremesso em situações de vento e
permitem atingir maiores distâncias. As carretilhas são compatíveis com as
linhas e varas nas numerações escolhidas.
Leader:
Recomendamos leaderes 3X ou 4 X, de 8’a 12’de comprimento, com tippets variando entre 0,15 mm a 0,20 mm.
Recomendamos leaderes 3X ou 4 X, de 8’a 12’de comprimento, com tippets variando entre 0,15 mm a 0,20 mm.
Material
Utilizado:
- Anzol para mosca seca
tamanho #10 ou #12
- Linha de atado 6/0
- Cerda da pena de
pavão
- Pelo: Elk hair
- Alinhador de pelos
1- Prenda o anzol de
tamanho 10 ou 12 na morsa e coloque a pena de pavão e enrole a cerda da pena de
pavão em direção ao olho do anzol e prenda com o fio de atado.
2- Corte um tufo de elk hair de espessura proporcional ao anzol, alinhe os pelos.
3- Ate o tufo de elk de forma que as pontas passem apenas de 2,5 a 3,5 mm a curva do anzol.
2- Corte um tufo de elk hair de espessura proporcional ao anzol, alinhe os pelos.
3- Ate o tufo de elk de forma que as pontas passem apenas de 2,5 a 3,5 mm a curva do anzol.