segunda-feira, 3 de outubro de 2011

PARANAZÃO À MOSCA

Texto: Leandro Vitorino

Fotos: Cassio Andrade e Leandro Vitorino
    A Bacia do Paraná drena a maioria dos rios de grande porte que correm para o sul da América do sul. Rios como o Paranaíba, Grande, Paranapanema, Tietê, Iguaçu e Paraguai são alguns exemplos do poder que o Rio Paraná adquire após receber todos esses grandes afluentes.
Cardume de curimbatás. Foto: Leandro Vitorino
Cardume de Armaus. Foto: Leandro Vitorino

    Essa união de águas representa não só uma imensa concentração aqüífera, como também a incorporação de inúmeras espécies que nadam nos biomas Pantaneiro, Cerrado, Mata Atlântica e Pampas. A Bacia do Paraná casa todos esses grandes biomas brasileiros criando uma majestosa biodiversidade em suas águas.
O raro Mandi-bandeira. Fotos-sub: Leandro Vitorino   
     Em busca de explorar toda essa riqueza aquática, pescadores esportivos de toda a América e Europa traçam destinos à Bacia do Paraná. Uns preferem o Pantanal, outros vão direto ao Paranazão brasileiro ou argentino.
Foto-sub: Leandro Vitorino   
 Dentro do território brasileiro, o Paranazão sofre com a falta de consciência de pescadores que exploram seu pescado como fonte de alimento e produto de comércio. Do lado argentino percebemos uma forma mais inteligente de explorar o rio, através do turismo da pesca esportiva, mantendo o peixe vivo dentro d’água. Para isso, criaram leis que protegem seus peixes, em especial o dourado, que são cumpridas pelos turistas e fiscalizadas pelos próprios guias das pousadas. Mesmo possuindo uma economia interna menos representativa que a brasileira, a Argentina manipula suas riquezas naturais com mais sabedoria do que o nosso país. Mas nestes dois países os peixes são vitimizados por Hidroelétricas que também impedem que a piracema ocorra adequadamente.
Jaú com mais de 40 quilos, vítima das turbinas de uma das Hidroelétricas do trecho argentino no Rio Paraná. Foto: Leandro Vitorino
Pequenos dourados nadam em meio a cardumes de curimbas e piaparões. Foto-sub: Leandro Vitorino
    Mesmo sofrendo com toda essa pressão de pesca, a natureza do Rio Paraná consegue se contorcer, criando mecanismos de autodefesa, mantendo sua magia e permitindo que ainda exista em suas águas espécies magníficas. O dourado, maior peixe de escamas de sua bacia, desfila imponência e elegância por onde passa, conseguindo intimidar cardumes imensos de piaparas e cubimbatás, e pensar que várias pessoas não respeitam sua majestade e o matam.
As grandes fêmeas geralmente caçam sozinhas ou aos pares. Foto-sub: Leandro Vitorino

    O Rei do Rio que conseguir se desviar das redes de pesca e não tiver curiosidade pelos pescadores-sub podem gerar enorme alegria ao pescador esportivo que o “enfrenta”.
Pequenos dourados são comuns no trecho argentino.
    A pesca com mosca se enriquece de desafios no Rio Paraná que, além do dourado, também recebe piracanjubas, pacús, piraputangas e tabaranas como nobres ingredientes.
Streamers Andinos consagram-se como uma das moscas mais produtivas com os dourados
    Em minha última aventura no Paranazão passei mais de doze dias em suas margens, em diversos pontos diferentes. Dentro do Brasil, estive em Rosana (SP) e como a população de dourados já decaiu bastante para quem pesca esportivamente a sua visita quase não compensa. No período em que estive em Rosana, vi dezenas de pescadores sub abatendo suas espécies proibidas e também vários pescadores profissionais com suas redes quilométricas. Só não encontrei com a fiscalização ambiental. Pra quem pesca esportivamente e com ética isso é uma lástima, que chega a doer o coração.

    Fiz alguns mergulhos em apneia de observação em Rosana/Primavera, logo que eu passava contemplando e fotografando pintados, dourados e outros peixes chegavam os pescadores-sub tentando arpoar os pobres peixes, que pena! Minha vontade era de...deixa pra lá...
Grande fêmea de surubim pintado, estimada em 40 quilos, sofre como principal alvo dos pescadores-sub. Foto-sub: Leandro Vitorino
Na região de Rosana, o Paranazão deixa os apneístas profundistas à desejar, mas como não tem grandes profundidades, permite fazer esperas mais prolongadas no fundo, acima dos 3 minutos. Fotos: Leandro Vitorino

    Do Paranazão brasileiro partimos para seu trecho argentino, na cidade de Ita Ibaté, em busca de suas espécies esportivas. Lá, respiramos outra atmosfera do rio Paraná, dessa vez, bem mais rico em peixe. Encontramos vários brasileiros que, como nós, buscavam um rio preservado para praticar o esporte da pesca.
Guia Miguelito. O bom posicionamento do barco pelo guia é fundamental para se obter boas apresentações da mosca.
    A grande maioria dos pescadores corricam nas pedreiras e poços do Rio Paraná, outros se divertem com as piaparas na técnica da rodadinha. A população de piaparas é tão grande por lá que nem necessita de cevas para pescá-las. Uns poucos preferem a pesca de arremesso em suas margens, nela o flycasting se transforma numa prazerosa festa com dourados e piracanjubas.
Cassio e sua piracanjuba. Em águas brasileiras ela está ameaçada, na Argentina ainda nadam consideráveis populações.

    Mesmo com a água mais escura pelas chuvas, dificilmente o dourado errava seu ataque a isca. Uma fisgada rápida e forte com a linha se faz necessária para que o anzol penetre sua boca óssea, mas a partir daí a fúria do dourado é despertada: os menores se arrancam em saltos espetaculares, os maiores buscam o fundo e tentam se desvencilhar com suas cabeçadas. Nenhum deles aceita serem destinados à embarcação e só se entregam após sua última gota de energia ser consumida.

    As piracanjubas também não resistem ao bom nado de um streamer ou uma mosca terrestrial bem apresentada, mordendo a isca e decolando em saltos.

    Streamers Andinos, Deceivers, Poppers, Clousers, Divers, EP minnows e outras mais são moscas bem vindas na fly Box de quem procura os Salminus e Brycons do Paranazão. Nessa viagem utilizamos equipamentos #6, #7 e #9, de 9' de comprimento, com linhas floating e sinking.

    Só espero que o Paranazão não se enfraqueça mais.

    Agradeço aos amigos Geléia, Leo, Thiago e , em especial, ao Cassio, o qual tenho tentado passar tudo que aprendi sobre pesca com mosca e mergulho em apnéia.
Cassio e eu.
Até a temporada do ano que vem...

    Forte abraço!