sábado, 29 de junho de 2013

"RATEANDO" PIRAPITINGAS EM ÁGUAS TURVAS

Texto: Leandro Vitorino
Fotos: Rafael Pacheco e Leandro Vitorino
Oportunista, a pirapitinga alimenta-se também de pequenos roedores e rãns, conforme publicado no trabalho de pesquisa da UNESP de Rio Claro, que avaliou o conteúdo estomacal de mais de 200 pirapitingas. Foto: Leandro Vitorino
     No começo de junho, eu e o Rafa fomos fazer um trabalho de campo em uma propriedade amiga do Projeto Pirapitinga. Propriedade que é literalmente o fim da linha de uma estrada de terra. Era junho e caía algumas chuvas esporádicas, algo incomum para a época aqui em Goiás.

Região em que se encontram três rios pirapitingueiros. Foto: Leandro Vitorino 
Chora-chuva-preto, pássaro insetívoro, habitante do cerrado. Foto: Leandro Vitorino
Urubu-de-cabeça-vermelha. Foto: Leandro Vitorino
Rolinha-caldo-de-feijão chocando seus ovos. Foto: Leandro Vitorino 
Uma hora e vinte minutos de caminhada, subindo e descendo o espigão, mas a paisagem vale a pena. Foto: Leandro Vitorino 
Canarinho-da-terra trocando de penas. Foto: Rafael Pacheco
    No trajeto, percorremos de camioneta uns trinta quilômetros de estrada de terra, sendo grande parte do trecho com estradas quase intransponíveis, subindo e descendo serra, curvas com desfiladeiros, inúmeras erosões e alguns atoleiros, enfim, fim da linha. A estratégia era pescar num trecho de rio, onde descobrimos há um ano, em que a pirapitinga reina a ictiofauna local. O trecho de vadeo no rio possuía algo em torno de 2 km, porém, para chegar até o trecho caminharíamos 5 km na ida e mais 5 km na volta, totalizando 12 km. O difícil seria subir e descer a serra que esconde em seu vale um paraíso perdido das pirapitingas, mas que com certeza lavaria nossa alma. Local extremamente preservado, com vários animais selvagens em meio a rica paisagem de cerrado.

Sabiá. Foto: Leandro Vitorino
Saíra-amarela. Foto: Leandro Vitorino

Cerrado propriamente dito bem preservado. Foto: Leandro Vitorino
Carcaça de tamanduá-bandeira, provavelmente predado por onça. Foto: Leandro Vitorino
Bandeira. Foto: Leandro Vitorino
    Chovera por 4 dias na região, não muito forte, mas o suficiente para sujar a água. Depois de quebrar muito galho e nos acabar nos espinhos dos “arranha-gato”, colocamos os pés na água. Hora de profunda interpretação...: água suja... leitura do rio... corredor de alimentação... procurávamos ações das pirapitingas pelo rio, eclosões, insetos e pequenos animais nas margens...

Uma espécie de esperança verde. Foto: Leandro Vitorino
Outra espécie de esperança. Foto: Leandro Vitorino
Grande grilo (cricket), comum no cerrado. Foto: Leandro Vitorino
Ninfa de tucurão (Giant Grass Hopper) já com seus 10 cm, uma das únicas espécies capazes de comer a folha da sambaíba (lixeira), árvore muito comum no cerrado. Foto: Leandro Vitorino 
Ninfa de Yellow Sally, essa é a Stonefly mais comum do cerrado goiano. Foto: Leandro Vitorino 
   Como não era época de picos de eclosões, partimos pras nossas moscas terrestres: gafanhotos, grilos, tanajuras e ratos....isso mesmo: ratos!! O Rafa tava louco pra “ratear” no up stream...Também pescamos com poppers, moscas eficazes em águas turvas, por atraírem o peixe pelas vibrações, uma vez que a localização pela visão está prejudicada.

Aprender a pescar pirapitingas na água suja é um bom desafio. Foto: Leandro Vitorino
Rafa apresentando rente ao paredão. Foto: Leandro Vitorino
    Quando a água está turva, o que atrapalha a visualização da mosca pelo peixe, se apenas deixar a mosca à deriva e não ocorrer ataques, o mosqueiro poderá trabalhar a mosca terrestrial imprimindo alguns toques rápidos, porém curtos, dando pausas adequadas para que o peixe encontre a mosca. Os gafanhotos GO FLY também possuem uma ação Popper, podendo deixá-los à deriva ou trabalha-los como poppers.

Pirapitinga no Popper. Cabeça de espinho de paineira (presente do amigo Ivo). A cauda de EVA melhora a flutuabilidade dos pequenos poppers e ainda simula uma pequena rã, da qual a pirapitinga também se alimenta. Foto: Leandro Vitorino 
Visão de um não-pescador
Visão de um pirapitingueiro que pesca no up stream com terrestriais. Observe que o trecho possui três corredores de alimentação e "Janelas" entre eles e no bordo, delimitando as áreas de apresentação das terrestriais. Foto: Leandro Vitorino
Rafa, concentrado, trabalhando seu rato rente a margem com plantas e musgos. Foto: Leandro Vitorino 
Pirapitinga na linha.... Foto: Leandro Vitorino
Rafa obtebve ótimo resultado com seus ratos, dois deles as pirapitingas levaram. Foto: Leandro Vitorino
Foto: Leandro Vitorino
Rato, excelente produtividade na pesca com mosca da pirapitinga. foto: Leandro Vitorino
     Com a água escura, mais uma vez comprovamos que as terrestriais com fundo escuro eram mais efetivas, por destacar a sua silhueta escura no azul do céu quando o peixe a olha de baixo para cima. As moscas claras como a Cigarrinhas-do-campo e a Yellow Sally caem sua produtividade em águas escuras.
A Dobsonfly adulta de EVA GO FLY também promoveu boas ações. Foto: Leandro Vitorino 
Cigarrinha-do-campo. Foto: Leandro Vitorino 


Ninfa de Gafanhoto GO FLY, mosca bem produtiva em qualquer época do ano. Foto: Leandro Vitorino

UP STREAM: a mais emocionante e eficiente opção para a pesca da pirapitinga com mosca. Foto: Leandro Vitorino
     Saíram 33 pirapitingas nesse dia, sem contar os inúmeros peixes perdidos, alguns cortaram o tippet do Rafa outros se desvencilhavam do anzol... foi um dia e tanto!
     Em locais com mata ciliar tipo mata de galeria, local de maior ocorrência dos ratos silvestres, o Rafa fez a festa com a sua “rataiada”, fisgandou mais de 10 peixes com seus ratos.

Foto: Leandro Vitorino
Mais uma eletrizante pirapitinga no rato do Rafa. Foto: Leandro Vitorino
A mata ciliar bem preservada é fundamental para a sobrevivência das pirapitingas. Foto: Leandro Vitorino
Rafa, merecido orgulho de seus ratos. Foto: Leandro Vitorino
     Não saiu grandes peixes neste dia, mas a quantidade e a agressividade dos ataques deram um tempero a mais na pesca com mosca.
     Mais um dia em que aprendemos muito e que enriquecemos nosso espírito pirapitingueiro no cerradão goiano!

Até a próxima...

Att, Leandro

segunda-feira, 3 de junho de 2013

LAGO STROBEL - Patagônia Argentina


Texto: Eduardo Martinelli
Fotos: Eduardo Martinelli, guias Loop Camp Jurassic Lake

 Imperdível!! Esta é a melhor definição que consegui para uma pescaria no Lago Strobel, também chamado Lago Jurássico (fácil imaginar a razão do nome).
O ponto de partida para a viagem ao Lago é a cidade de El Calafate, na província de Santa Cruz, região sul da Argentina. Esta cidade se encontra a aproximadamente 80km do Parque Nacional dos Glaciares, onde pode ser visitado o Glaciar Perito Moreno, a maior geleira em extensão horizontal do mundo.

Glaciar Perito Moreno – Parede Frontal. Foto: Eduardo Martinelli

Glaciar Perito Moreno – Parede Frontal. Foto: Eduardo Martinelli

Glaciar Perito Moreno – Parede Sul. Foto: Eduardo Martinelli

Glaciar Perito Moreno – Parede sul e Frontal. Foto: Eduardo Martinelli
Durante a viagem de Calafate ao Lago Strobel, que dura aproximadamente 6:30 em camionetes 4x4, é comum avistar bandos de Guanacos, comuns na região. 

Comboio de Camionetes usadas na viagem, no meio da planície patagônica. Foto: Eduardo Martinelli

Guanacos da Patagônia. Foto: Eduardo Martinelli
Nesta minha segunda visita ao Strobel, contra todas as estatísticas, o vento passou a maior parte do tempo arriado. Tudo parado! Situação difícil de encontrar na Patagônia, onde o vento normalmente castiga bastante o pescador. E a ausência de vento deixa as trutas bastante arredias, dificultando sua captura. Para completar, o Rio Barrancoso, único rio que alimenta o Lago Strobel, estava muito seco.

Espelho d´água no Lago Strobel. Foto: Guias Loop Camp

Espelho d´água no Lago Strobel. Foto: Eduardo Martinelli

Espelho d´água no Lago Strobel. Foto: Guias Loop Camp 

As enormes trutas podiam ser avistadas a poucos metros, mas dificilmente estas atacavam nossas iscas. Foto: Eduardo Martinelli

Primeiro plano à direita – arbusto que deu o nome à cidade Calafate; Segundo plano – Rio Barrancoso; Terceiro plano – Lago Strobel. Foto: Eduardo Martinelli
Pescamos em quatro dias diferentes no Lodge de pesca: a partir das 16:00 do primeiro dia, seguidos de 2 dias completos de pesca, e no quarto dia até a hora do almoço. O Lodge fica a 200m do lago, facilitando muito a pesca, que pode ser feita, dependendo do mês da pescaria, desde as 7:00 até as 20:00. E cada um pode fazer sua pescaria como bem entender, sem comprometer a pescaria de nenhum outro pescador.
Logo no primeiro dia peguei a maior truta da minha vida, com peso entre os 9 e 10 kg. A isca usada foi uma wooly bugger chartreuse com anzol #8, em um conjunto #6. Uma briga magnífica, muitos saltos, com quase todo o backing sendo levado...

Truta com mais de 9kg capturada pelo autor. Foto: Guias Loop Camp

Outra bela truta capturada com uma Wooly Bugger chartreuse, anzol #8. Foto: Guias Loop Camp

Detalhe de truta arco-íris capturada com uma Wooly Bugger chartreuse, anzol #8. Foto: Eduardo Martinelli

A pesca no lago estava muito difícil, pois como não havia vento as trutas estavam muito seletivas e arredias. Mesmo assim todos pegaram seus troféus.

Plácido e uma bela truta arco-íris capturada no rio Barrancoso com equipamento #4. Foto: Eduardo Martinelli

Tião e a alegria de pegar mais um troféu no Lago Strobel. Foto: Guias Loop Camp

Emiliano e um dos seus troféus. Foto: Guias Loop Camp

Marcelo e um belo exemplar. Foto: Guias Loop Camp

 Marcelo e outra bela truta patagônica. Foto: Guias Loop Camp

Plácido e um troféu de 11kg! Foto: Guias Loop Camp

Alejandro mostra uma das belas trutas capturadas. Foto: Guias Loop Camp

Tião e outro belo exemplar. Foto: Guias Loop Camp
Gosto de acordar antes do nascer do sol, para aproveitar o que, para mim, é o melhor momento de pesca no Lago: desde a hora que o dia começa a clarear até a hora que o sol nasce. Neste período as trutas já estão ativas porém menos arredias. Nestes períodos, em todas as três manhãs, tive brigas memoráveis.

Nascer do dia no Lago Strobel. Foto: Eduardo Martinelli
 
Bela truta arco-íris capturada com o dia clareando, com um BlackNose Dace chartreuse. Foto: Eduardo Martinelli

Como a pesca no lago estava complicada, durante as horas mais claras dos três últimos dias pesquei mais no Rio Barrancoso. Apesar de seco, este rio tem uma característica muito especial: é cheio de trutas, pequenas e grandes. A pesca no rio pode ser feita com moscas secas e molhadas. Todas são muito eficazes e nos renderam momentos magníficos. A maioria das trutas eram pequenas, mas volta e meia pegávamos trutas com tamanho considerável. A maior tinha em torno de 8kg!
Rio Barrancoso em primeiro plano e Lago Strobel ao fundo. Foto: Eduardo Martinelli
  
Pequena arco-íris capturada no Rio Barrancoso com uma Elk Hair Caddis. Foto: Eduardo Martinelli


Truta bastante colorida capturada no Rio Barrancoso. Foto: Eduardo Martinelli

Nem sempre as trutas capturadas no Rio Barrancoso eram pequenas... Foto: Eduardo Martinelli


Outra grande truta do Barrancoso. Foto: Eduardo Martinelli

Linda truta capturada com uma Stimulator em anzol #8. Foto: Eduardo Martinelli

Nos finais de dia sempre voltava para o Lago, arriscando as grandes trutas depois do por do sol. Mais belas capturas feitas.
As iscas usadas foram as mais diversas, atadas em anzóis entre #6 e #12. Dentre as mais produtivas ficaram: moscas molhadas – Wooly Bugger de cores cítricas, Black Nose Dace misturando cores cítricas com neutras; moscas secas: Parachute, Adams, Stimulator, Green Machine e iscas simulando ovos de truta – laranjas.

Os equipamentos variaram entre o #4 e o #8. Os menores usados no rio Barrancoso e os maiores no Lago. Líderes cônicos com tippet entre 0,28mm e 0,32mm.

Ao fim da pescaria, já começando as conversas sobre o retorno em 2014, a tradicional foto com os amigos pescadores.

Grupo de amigos pescadores. Foto: Guias Loop Camp