sexta-feira, 30 de setembro de 2016

AZULÕES NO VADEO (represas do Sudeste e Centro-Oeste)

TEXTO: Leandro Vitorino
FOTOS: Arquivo GO FLY 

Leandro Vitorino e um belo Tucunaré azulão, fisgado com vara #4, na mosca, e com os pés na água. Foto: Luiza Dornfeld.
Há cinco décadas, a pesca com mosca de vadeo, ou pescar caminhando, era uma prática quase que exclusiva da pesca das trutas e de algumas outras poucas espécies, mesmo porque, nessa época, o fly ainda era uma modalidade “embrionária” no Brasil.

"Filhoteira de azulão". Foto: Leandro Vitorino
Fêmea de azul cuidando sozinha de sua prole, provavelmente o macho foi vítima de pescadores ou caçadores-sub. Foto: Leandro Vitorino.
Foto: Leandro Vitorino
A chegada da pesca com mosca no Brasil foi um desembarque no paraíso dos peixes esportivos, abrindo um gigantesco leque de opções para se praticar, remodelar e descobrir novas maneiras para que o flyfishing fosse mais bem aproveitado para cada espécie e situação de pesca aqui presente. Nossos primeiros mosqueiros logo já foram descobrindo o grande potencial mosqueiro de nossas espécies. Trutas introduzidas nos rios de montanhas e lambaris talvez tenham sido os primeiros alvos desses mosqueiros, mas não tardou para experimentarem outras espécies tupiniquins, entre elas os afamados tucunarés, já que cada vez mais essa espécie se popularizava na pesca esportiva.

Macho de tucunaré azul no inicio do amadurecimento sexual. Foto: Leandro Vitorino.
Foto: Leandro Vitorino.
Foto: Leandro Vitorino.
Sérgio na labuta com um azul de respeito no Rio Grande. Foto: Leandro Vitorino.
Foto: Leandro Vitorino.
A pesca de vadeo dentro da água evita os impactos do peixe na embarcação e no barranco, liberando o peixe de forma mais saudável. Foto: Leandro Vitorino.
Sérgio e seu belo azul. Foto: Leandro Vitorino.
Soltura saudável.  Foto: Leandro Vitorino.
A popularização do tucunaré azul (C. piquiti) e amarelo (C. Kelberi) pelo país ocorreu em consequência da expansão do número de represas hidroelétricas, principalmente nas regiões centro-oeste e sudeste, onde estas espécies foram introduzidas, encontrando clima e ambiente propício. Além disso, essas regiões estão numa localização de boa acessibilidade para muitos brasileiros. A região sul, pelo seu clima mais frio, os tucunarés não se reproduziram de forma tão significativa. Mais recentemente, na última década, o nordeste também entrou na “febre dos tucunarés”, também embalados pelas jovens represas de clima tropical, onde os tucunarés pinimas e amarelos tornaram-se as estrelas nordestinas.


Irerês. Foto: Leandro Vitorino.
Marreca-cabocla. Foto: Leandro Vitorino.
Garça-branca, companhia nas beiradas das represas.  Foto: Leandro Vitorino.
Garça-boieira. Foto: Leandro Vitorino.
Marreca Irerê. Foto: Leandro Vitorino.
Pernilongo à esquerda e cabeça-seca à direita. Foto: Leandro Vitorino. 
Jaçanã macho. Foto: Leandro Vitorino.
Uma das ilhas do Rio Grande. Foto: Leandro Vitorino. 
Independente da modalidade, o tucunaré azul talvez seja a espécie mais pescada esportivamente no Brasil, tratando-se de águas interiores. Nesse grande universo, desenvolveram-se inúmeras embarcações voltadas para a pesca: lanchas e caiaques foram as principais. Apesar disso, o pescar caminhando nunca se desligou do pescador, mesmo do mais moderno, seja pelo prazer de se pescar curtindo a água aos pés, assimilando todo conhecimento da natureza que é oferecido nesse estilo, seja pelos instintos mais antigos do homem em seus primórdios.

Foto: Leandro Vitorino.
Foto: Leandro Vitorino.
Macho de tucuna amarelo. Foto: Leandro Vitorino.
Tucunarés amarelos machos em fase de acasalamento. Foto: Leandro Vitorino. 
Machos de tucuna amarelo à frente e macho de tilápia nilótica ao fundo. Foto: Leandro Vitorino.
 Observando toda imensidão de água das represas hidroelétricas, parece impossível imaginar que uma pesca desembarcada possa aproveitar todo o potencial do local. De fato, a pesca desembarcada tem suas limitações, seja pela menor área de ação do pescador e pelo desgaste físico, por isso é necessário ter aptidão e saber escolher o local mais propício e produtivo para pratica-la. Mas também tem como opção o mosqueiro fazer alguns pontos embarcados e os mais viáveis para o vadeo ele pescar caminhando.
Não tenho dúvida que naqueles locais onde “moram” aqueles azulões “super-velhacos” o fly no vadeo faz toda a diferença. Nesses locais, alguns peixes parecem já conhecer o barulho dos motores de popa e elétrico, já os associando ao perigo. Visto que muitas vezes que estou vadeando por alguns locais passam embarcações com motor elétrico e batendo isca pra todo lado e nada de peixe... e no mesmo local, aproximando-se caminhando sem chamar a atenção, talvez a sorte do pescador seria outra. Isso ocorre porque o vadeo quase não abala a sensação de segurança dos peixes: os casais de azulões são mais desconfiados, mas quando aproximamos de um cardume a farra é garantida.

Serra da Mesa em 2016 passa por uma forte seca. Pescar nesses "paliteiros" exige capricho nos arremessos. Foto: Kenji. 
Vadeo na Serra da Mesa. Foto: Kenji.
Fim de tarde na Serra da Mesa curtindo um vadeo. Foto: Kenji.
Kenji e seu forte azulão da Serra da Mesa, tirado do meio das pauleiras. Foto: Vinícius Pontes.
Em alguns locais selecionados, como pontais com áreas espraiadas que permitem a caminhada pela água, cobrimos uma boa área com nossas moscas, e aquele azulão que parecia ignorar toda e qualquer isca da pesca embarcada, poderá, com uma chance maior, partir embalado para abocanhar a mosca do pescador desembarcado. Os poucos ruídos e o fator surpresa do vadeo associado a um bom arremesso e uma mosca bem trabalhada vão somar os elementos positivos para que o mosqueiro obtenha sucesso no vadeo de azulões. Mesmo com toda essa afiação, acertar um azulão não é fácil, mas com técnica e persistência ele sai.

Capinzais submersos nas margens são ótimos locais de caça para os tucunarés. Foto: Leandro Vitorino.
Verdadeiros labirintos de caça para os tucunas. Foto: Leandro Vitorino. 
Azulão fisgado no andino durante o vadeo. Foto: Leonardo Barbosa.
Forte azulão da Volta Grande. Foto: Leonardo Barbosa.
Nas regiões sudeste e centro-oeste, o tucunaré amarelo fica no raso praticamente o ano inteiro, mas os azulões são mais “nômades”, vagando mais pela represa e ficando no fundo, só costumando elevar sua frequência nas rasuras na primavera e verão, entre agosto à março. Nessa época, a água esquenta, elevando seu metabolismo, deixando-os mais ativos para a alimentação e consequentemente propiciando melhores condições de reprodução. Nesses meses, os cardumes de jovens tucunarés se tornam mais vorazes, os casais de azulões intensificam seu territorialismo, principalmente se estiver defendendo seus ninhos ou prole.

Troncos semi-submersos em áreas espraiadas são excelentes pontos para abordagem no vadeo. Foto: Leandro Vitorino.
Foto: Luiza Dornfeld.
As águas claras desse jardim submerso de plantas com temperaturas agradáveis para a pesca de vadeo se torna um ambiente bem convidativo a essa pratica.

Alodea ou rabo-de-gato, bastante comuns nas represas do sudeste, servem como locais de refúgio e desova para camarões e pequenos peixes forrageiros. 
Tucunão azul fisgado no gafanhoto GO FLY, sendo trabalhado como popper. Foto: Luiza Dornfeld.
Leandro e seu azulão no vadeo, "gafanhotando" na vara #4. Foto: Luiza Dornfeld.
Azulão no gafanhotão. Foto: Luiza Dornfeld. 
No fim de tarde, os cardumes encostam ainda mais nas margens, abrindo uma janela de oportunidade ao mosqueiro curtir um verdadeiro frenesi de ataques a sua mosca, e pra brindar a sua satisfação de se sentir pescado, o por do sol revela-se com as cores mais bonitas do pincel divino. Junto a esse visual, notasse a mudança do aroma, com um cheiro de vegetação úmida levemente adocicada. Momento de calmaria que agrada o espirito mosqueiro em elevada profundidade.

Incrível tomada de um azulão, chegou até me lembrar os açús amazônicos. Foto: Leandro Vitorino.
Leandro Vitorino e o sonhado azulão. Foto: Luiza Dornfeld.
Tucunaré "Azulão" de 63 cm e 4,3 kg de pura força e beleza. Foto: Luiza Dornfeld.
Enquanto as garças dão meia volta e se aprumam nas margens, o fim de tarde ainda pode nos render um azulão dos sonhos, pois é nesse horário que eles ficam ainda mais territoriais, escolhendo seu tronco que irá repousar a noite. Passar a mosca nas estruturas de “dormitório” é um verdadeiro afronto a sua autoridade. Os azulões do sudeste são mais tímidos e não se apresentam tanto na superfície, algumas vezes apenas seguem a mosca, às vezes é possível ver aquela enorme marola perseguindo da mosca, e quando decidem tomar a mosca não costumam estourar. Pela tomada da mosca, parece ser só mais um tucuna qualquer, mas na bruta arrancada passamos a elevar o respeito pela “encrenca” que está do outro lado da linha. Depois da vigorosa batalha, encosta aquele azulão “parrudo”, “quadrado” ... um azul anil intensificado pela primavera reprodutiva... paro aqui a descrição do momento, pois são atos para serem curtidos e impossível de serem descritos na íntegra, tamanha a emoção envolvida. Só nos resta registrar uma foto e devolver o imponente azulão as águas de seu domínio.

Dizer mais o quê depois de já se sentir pescado? Foto: Leandro Vitorino.
Deixo como mensagem nessa matéria a importância de se preservar nossos azulões e meu estímulo aos mosqueiros a praticar a pesca de vadeo sempre que possível, independente da espécie, pois realmente é bem emocionante e saudável.

EQUIPAMENTOS:

VARAS:

No vadeo de tucunas costumo usar equipos mais leves do que da pesca embarcada. Tenho costume de usar equipamentos de #4 a #7 no sudeste, pontualmente, recomendo um #6 pro vadeo e pra pesca embarcada de #6 a #8. As varas de ação rápida entre 8’a 9’de comprimento são as que mais me sinto confortável em utilizar.

LINHAS E LEADERES:

Uso apenas linhas WF – flutuantes com leaderes entre 1,8 a 2,5 metros, dependendo do tamanho da mosca e condições de vento, sendo: streamers menores = leader maior ou streamers maiores = leaderes mais curtos. Faço leaders compostos por 3 partes: 0,50 mm + 0,40 mm + 0,30 mm (tippet). Pra Serra da Mesa e Lago Angigal recomenda-se leaderes de duas partes, com tippet 0,40 mm. Caso utilize streamers pequenos, pode-se prolongar o leader para 2,5 metros e testar seu equilíbrio no arremesso. Para se aventurar em usar leaderes mais longos a técnica do arremesso deve estar bem apurada.

MOSCAS:

Minhas moscas preferidas pro vadeo de tucunas: leves e eficientes. Foto: Leandro Vitorino. 
Os streamers já se consagraram como a mosca mais utilizada para os tucunarés, pois elas imitam de forma genérica os peixes forrageiros do qual os tucunarés se alimentam. Mas, como um predador oportunista que é, os tucunas não dispensam uma terrestrial passando pelo seu território.

Andino deceiver com cabeça muddler na coloração que tenho maior afinidade. Foto: Leandro Vitorino.
Os streamers de minha preferencia pessoal são os pequenos andinos de cores mais claras e os minnows de fibras sintéticas, também de cores claras e brilho. Vejo relatos de vários mosqueiros obtendo sucesso com outros tipos de streamers e até camarões. Enfim, para tucunas inúmeras moscas podem ser efetivas.

Gafanhotões GO FLY #2, colocado uma pequena tira de EVA na cabeça pra dar maior volume a cabeça e poppar melhor. Foto: Leandro Vitorino. 

Como terrestriais, já utilizei com efetividade até ratos, mas o meu xodó e super-apreciado pelos tucunas é o Gafanhoto GO FLY atado em anzol #4 ou #2 (2XL ou 3XL). Vejo como vantagens nesse gafanhotão a durabilidade, equilíbrio e a possibilidade de atrair o tucunaré tanto por sua aparência realística quanto por poder ser trabalhado como popper. Atualmente nem utilizo mais os poppers tradicionais. A tomada do azulão no gafanhoto é bem empolgante, recomendo aos tucuneiros experimentá-lo. A receita do gafanhoto GO FLY e outras moscas efetiva para inúmeros outros peixes encontra-se disponível em nosso livro.        

LIVRO GO FLY DE PESCA COM MOSCA:


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ABRAÇOS!
FAMÍLIA GO FLY