sábado, 12 de setembro de 2015

TILÁPIAS SELVAGENS NA MOSCA

Texto: Juninho Dante (SP)
Fotos: Arquivo Juninho Dante, Ricardo Padovan e Leandro Vitorino


Cardume de tilápias Rendallis nas represas do Sudeste. Foto: Leandro Vitorino.

BIOLOGIA DA ESPÉCIE NO BRASIL


Rendalli em meio a vegetação (Alodea). Foto: Leandro Vitorino
De origem africana, a Tilapia Rendalli é uma espécie de peixe da família Cichlidae, podendo ser encontrada naturalmente em países como Burundi, Quênia e Tanzânia. A sua reprodução precoce (a partir dos seis meses de idade), associada a múltiplas desovas anuais e sua enorme adaptabilidade a ambientes lênticos, fez com que rapidamente a Rendalli estabelecesse um vasto território no Brasil.

A Rendalli, também denominada Tilápia-do-Congo, Tilápia-preta ou Tilápia-coquinho, foi introduzida no Brasil em meados de 1952. Tem hábito alimentar onívoro oportunista, com tendência herbívora, alimentando-se principalmente de plantas aquáticas como a Alodea brasileira, também não dispensam insetos aquáticos e terrestres, pequenos crustáceos (camarões) e pequenos peixes. Seu rico cardápio logo nos desperta para sua enorme potencialidade mosqueira.

Tilápia Nilótica escondendo seus alevinos na boca. Foto: Leandro Vitorino.
Fêmea de nilótica e seus filhotes. Foto: Leandro Vitorino.
Por não ter se mostrado tão atraente para a piscicultura no Brasil quanto à tilápia nilótica, a Rendalli acabou sendo “descartada” de forma intencional ou acidental em várias Bacias, principalmente nas regiões sul, sudeste e Centro-Oeste, se concentrando principalmente nos reservatórios das represas de hidroelétricas.

Macho de tilápia nilótica. Quando esta maduro sexualmente possui uma cor branca. Foto: Leandro Vitorino.
  Hoje, a pesca da Tilápia Rendalli em ambientes selvagens brasileiros é alvo cobiçado por muitos pescadores, seja na pesca com iscas naturais ou artificiais nas modalidades de baitfishing e flyfishing (pesca com mosca).

Sua musculatura forte faz da Rendalli uma boa brigadora. Foto: Juninho Dante.
O Net ajuda no embarque do peixe, evitando acidentes com seus espinhos das nadadeiras. Foto: Juninho Dante.
Desconfiada e extremamente arisca, as grandes Rendallis exigem expertise do pescador, fazendo com que a pesca com mosca se emoldure numa técnica incrível e cheia de artimanhas.
 
Rendalli com a sua mosca coringa: "Caddis com patas".
A pesca com mosca vem ganhando inúmeros adeptos no Brasil seja por sua plasticidade envolvente, afinamento técnico ou por conectar seu praticante de forma mais íntima à natureza. Por esses e outros motivos, o enobrecimento da pesca com mosca em nosso país, não poderia deixar de fora a formosa Rendalli.

PONTOS DE PESCA

Capim submerso em áreas espraiadas são excelentes pontos de Rendalli, além de permitir mosquear caminhando (vadeo). Foto: Juninho Dante.
         Nossas considerações sobre os pontos de ocorrência dessa espécie bem como a técnica aplicada na sua pesca com equipamento de mosca não tem a pretensão de serem completos, nem de estabelecerem regras inflexíveis, mesmo porque entendemos que o mosqueiro brasileiro está em constante metamorfose, por isso, assumimos uma postura consciente de busca incessante por conhecimento, sem subestimar nenhuma nova informação. Mas, ao mesmo tempo, reconhecemos que nossa bagagem na pesca com mosca da Rendalli nos forneceu uma considerável familiaridade com esse peixe, o que já nos permite dissertar importantes conceitos, muitos destes indispensáveis ao mosqueiro que busca por essa espécie em águas tupiniquins.

Os bons resultados na pesca das Rendallis estão ancorados em anos de observações atentas em seu ecossistema selvagem, principalmente nas represas do estado de São Paulo e Minas Gerais. Temos nos empenhado tanto na pesca embarcada (caiaque) como barranqueando (vadeo).


            Já exploramos boa parcela das represas do interior de São Paulo e algumas de Minas Gerais a procura dessa tilápia, onde fizemos nossas moscas “voarem” intensamente.



 A beleza das represas complementa a harmonia mosqueira na busca pelo peixe. A calmaria do ambiente se entrelaça com a ânsia de captura da astuta tilápia na mosca, modalidade esta que até pouco tempo atrás se restringia às trutas.

Estruturas como troncos submersos são pontos quentes para que a Rendalli tome a sua mosca seca. Foto: Juninho Dante.
Pelos e a plumas atadas artesanalmente num anzol toma a forma de mosca, que lançadas por equipamentos leves de fly incorporam maior esportividade e satisfação a quem se entrega a essa aventura apaixonante.



Dotado de um instinto indígena, o pescador se aproxima do ponto de ação do peixe de forma mais silenciosa possível, tomando o cuidado para não afugentá-las. A imperceptibilidade ao peixe torna-se estratégia imprescindível para efetivar uma captura de uma boa Rendalli.
Para muitos a imagem abaixo passaria despercebida, sendo apenas uma ave a beira d´água, mas para o mosqueiro observador, a presença desta espécie é um indicador de peixes, podendo ser um ponto quente de tilápias.

A presença de aves piscívoras em busca das tilápias juvenis acaba por denunciar locais propícios de tilápias adultas que também acabam dividindo a mesma área. Foto: Juninho Dante.
As tilápias constroem seus ninhos em drops ou em raseiras espraiadas, sendo que os ninhos de tilápias nilóticas tem o formato de uma grande bateia e as de Rendallis buracos mais irregulares, porem também arredondados.

Ninho de Tilápia Rendalli. Os buracos são cavados pelo casal. Foto: Leandro Vitorino.
Os ovos de Rendalli geralmente são colocados fora dos buracos, para ficarem mais expostos ao sol e acelerar o tempo de eclosão. Foto: Leandro Vitorino
Após o nascimento, os buracos feito pelo casal de Rendalli serve de esconderijo aos alevinos. Foto: Leandro Vitorino.         
         As nilóticas não formam casais fixos por longo tempo, já as Rendallis formam casais duradouros, sendo mais territoriais e possuem forte instinto de proteção parental de sua prole, o que a torna mais pescável na mosca do que a tilápia nilótica.
Os braços rasos de represa com vegetação inundada são excelentes pontos para capturá-las e na maioria das vezes são deixados de lado pelos pescadores em função da pequena profundidade. A presença de comida farta atrai os cardumes para estas regiões. Locais como estes são ricos em pequeninos peixes forrageiros, camarões e insetos aquáticos que compõem o cardápio das tilápias.


Camarão em meio a vegetação (Alodea e lodo). Foto: Leandro Vitorino.
Caddisfly (Trichoptera) à deriva, recém eclodida. Foto: Leandro Vitorino.
Fim de tarde é horário mágico, e as eclosões de caddis e mayfly atiçam as Rendallis. Foto: Juninho Dante. 

Eclosão de mayfly no fim de tarde. Foto: Leandro Vitorino

Algumas espécies de mayfly (Ephemeroptera) são extremamente comuns nas represas. Foto: Leandro Vitorino. 
Os locais mais profundos com árvores frutíferas na margem também devem estar na lista de pontos promissores. A observação se faz necessária do começo ao fim da pescaria para que o mosqueiro eleve sua capacidade interpretativa do ambiente de pesca.

O baixo do nível das represas nos períodos de seca nos mostra como é a topografia das margens, permitindo estudar os pontos promissores em épocas de cheia. Foto: Juninho Dante.


          A troca de experiências, a oportunidade de conhecer outros pontos de vista e o reconhecimento dos erros de estratégia de pesca alinham os amigos em um bom papo mosqueiro, que naturalmente fortalece as amizades e amadurece o conhecimento de todos.



As desembocaduras de riachos que nutrem as represas também são pontos de excelência para tilápias, pois carreiam alguns de seus alimentos suspensos na água ou a deriva, representando um local para os peixes se banquetearem.


Mosqueando nas rasuras das ilhas. Foto: Juninho Dante.
As raseiras em torno das ilhas isoladas conferem maior temperatura da água, elevando o metabolismo do peixe e efetivando a digestão do alimento, sendo estes pontos constantes de parada de cardumes de tilápia. Foto: Leandro Vitorino.
A famosa "Cara de Kombi" dando alegria ao mosqueiro na mosca seca. Foto: Juninho Dante.

RENDALLI NA MOSCA SECA



Extremamente arisca, a pesca das "tilaponas" com mosca seca exige muito do pescador. Foto: Juninho Dante.
Embora muitos mosqueiros utilizem as ninfas para pesca de tilápia com sucesso, são nas moscas secas que conseguimos o maior número de capturas, juntando o útil ao agradável.  A possibilidade de visualizar o ataque sutil do peixe na mosca na flor d’água é impagável.
Além da escolha dos pontos de pesca como citado acima, variáveis como: tamanho e tipo da mosca, apresentação, trabalho da isca, espessura de tippet, tamanho de líder, distância de arremesso em relação ao ponto e condições climáticas são vertentes que devem ser levados em conta pelo mosqueiro para obter sucesso na pesca.

Thiago Martinelli com uma bonita Rendalli fisgada na época da seca. Foto: Juninho Dante.
Rendalli capturada num local clássico: raseiras com presença de estruturas.

Ricardo Padovan com uma Rendalli capturada numa região de capim inundado. Foto: Juninho Dante.
Bamboo em ação com as Rendallis. Foto: Juninho Dante.
O fisgar de uma rendalli na mosca seca em uma clássica vara de fly feita em bambu, transmite ao mosqueiro uma sensação indescritível e envolta por prazeres. O arremesso suave do bambu permite um pouso perfeito da mosca que em poucos segundos é sugada pela valente Rendalli.
Dá-se inicio então a uma batalha onde a técnica do pescador em não deixa-la correr para as estruturas se contrasta com grande facilidade em envergar do bambu. Mesmo sendo um peixe de pequeno porte, consegue arrastar o caiaque por bons metros, mas toda dificuldade encontrada é logo esquecida quando se tem o alvo do dia nas mãos.

Linda Rendalli na Bamboo #3. Foto: Juninho Dante.
A pesca predatória vem ano a ano reduzindo a população não só das tilápias, como de todas as espécies presentes. É dever do pescador esportivo preservar e encabeçar a luta pela sobrevivência das espécies.O pesque e solte é fundamental para a preservação dessa espécie que sofre com a pesca predatória desenfreada em nossas represas.

Equipamentos utilizados

Varas: 
            As varas de numeração entre #2 e #4 são as mais indicas nos tamanhos de 6,6 a 9 pés.

Linhas e Carretilhas: 
Diante de um comportamento arisco como das tilápias, as linhas com peso à frente (WF), flutuantes (Floating) e que permitem uma apresentação suave da mosca são as mais indicadas. As linhas WF, facilitam o arremesso em situações de vento e permitem atingir maiores distâncias. As carretilhas são compatíveis com as linhas e varas nas numerações escolhidas.

Leader:
           Recomendamos leaderes 3X ou 4 X, de 8’a 12’de comprimento, com tippets variando entre 0,15 mm a 0,20 mm.

Caddis com Patas ( passo a passo por Ricardo Padovan):





Material Utilizado:

- Anzol para mosca seca tamanho #10 ou #12
- Linha de atado 6/0
- Cerda da pena de pavão
- Pelo: Elk hair
- Alinhador de pelos
- Pernas de borracha


1-     Prenda o anzol de tamanho 10 ou 12 na morsa e coloque a pena de pavão e enrole a cerda da pena de pavão em direção ao olho do anzol e prenda com o fio de atado.


2-     Corte um tufo de elk hair de espessura proporcional ao anzol, alinhe os pelos.


3- Ate o tufo de elk de forma que as pontas passem apenas de 2,5 a 3,5 mm a curva do anzol.


4- Corte o excesso de pelos da cabeça deixando-a com certo volume para deslocamento de água no trabalho da isca. Adicione as pernas de borracha para finalizar.


Passe flotante na mosca e estará pronta para ser mosqueada... Foto: Juninho Dante.