Texto e fotos: Leandro Vitorino
A pequena Yellow Sally adulta num rio do cerrado goiano
As stoneflies talvez sejam as moscas mais atadas no mundo, existindo uma diversidade incrível de receitas que tentam imitar essa criatura tão formidável. É um inseto que pertence a ordem Plecoptera, possuindo uma fase de vida aquática e outra terrestre. Quando maduras, as ninfas (aquáticas) geralmente sobem numa pedra e eclodem para a vida adulta, deixando para trás seu exoesqueleto, que serve de rastro para nós mosqueiros sabermos quando estão havendo as eclosões.
Exoesqueleto de Golden Stone nas Serras do Sul
Assim como ocorre com as trutas, as ninfas também representam o principal alimento das pirapitingas. Pela grande quantidade de stoneflies nos rios do cerrado me arrisco a dizer que as stones são o principal componente da base alimentar das pirapitingas.
Exoesqueleto de Yellow Sally
Quando coletava matrizes de pirapitingas para nosso projeto, o stress causado durante o transporte dos peixes fez com que eles regurgitassem uma grande quantia de ninfas de Stone, além de algumas ninfas de libélula (Dragonfly) e donzelinhas (Damselfly) além de algumas sementes, confirmando o que já saíamos: um peixe onívoro oportunista, mas com enorme predileção por insetos.
As eclosões podem ocorrer em várias épocas do ano quando as condições são propícias. Aqui no cerrado, pelo que observei, o pico de eclosão das stoneflies se dá em agosto, setembro e outubro, situação em que os rios se encontram extremamente baixos, com as pedras mais expostas, e o calor é intenso.
As eclosões podem ocorrer em várias épocas do ano quando as condições são propícias. Aqui no cerrado, pelo que observei, o pico de eclosão das stoneflies se dá em agosto, setembro e outubro, situação em que os rios se encontram extremamente baixos, com as pedras mais expostas, e o calor é intenso.
Golden Stone recém eclodida (asas abertas)
Uma das estratégias que a stoneflies incorporaram para "driblar" seus principais predadores (o peixe) foi realizar as eclosões durante a noite. Mas, “sabidamente”, as pirapitingas conseguiram bloquear parcialmente esse drible: em noite de lua clara e céu limpo, saem pra caçar as ninfas que se movimentam fora dos seus esconderijos.
Várias espécies diferentes de mosca da pedra (Stonefly) ocorrem no Brasil. Entre elas, duas são as que mais me atraem: A Golden Stone me impressiona por sua beleza e robustez, já a pequena Yellow Sally é delicada e possui um tom amarelo suave.
Golden Stone
Yellow Sally
Vadeando nas Serras do sul, observei uma boa quantidade de Golden Stone, já aqui no cerrado goiano temos uma grande ocorrência de Yellow Sally. Revirando os fundos pedregosos encontramos uma enorme quantidade dessas ninfas, e durante o vadeio já observei várias adultas aladas, umas, inclusive, se acasalando. Em certa ocasião joguei alguma na água pra observar o que aconteceria...e, quando descia à deriva, pimba!!! Um ataque explosivo!!!
Então vamos atá-la??!!
STONEFLY YELLOW SALLY ADULTA GO FLY (TÉCNICA DAS AGULHAS):
Materiais (sem conflito de interesse):
EVA: Uma placa amarela clara (comprada em papelaria)
Pernas finas: Rubber legs fine (branca ou amarela)
Fio de atado: Uni-Thread 6/0 da cor Lt. Cahill
Asas (material alternativo): Espuma de proteção de produtos digitais
Cola: Super Bonder
Anzol número 10 com haste alongada (2XL), usei o Tiemco #10 modelo 5212. OBS: A mosca atada nesse anzol imita o tamanho real da Yellow Sally.
Instrumental:
Agulha convencional de costura (em que as pernas finas de borracha passe pelo seu olho)
Morsa nacional: Monroy
Bobina
Tesoura
Caneta preta de CD/DVD (ponta fina)
Passos:
CONSTRUÇÃO DO CORPO (Body):
1- Cole duas planas de EVA com Super Bonder. OBS: Não costumo usar cola de EVA, que além de demorar colar, ainda adicionam peso a mosca.
2- Recorte os corpos em tiras de comprimento um pouco maior que a haste do anzol, se exceder muito esse comprimento poderá comprometer a fisgada.
3- Corte o EVA moldando-o em forma de barco, com uma ponta triangular e a outra reta com as quinas aparadas, dessa forma:
4- Faça uma fenda no EVA de forma que só atravesse a placa inferior
ABDOME
1- Cubra a haste do anzol com fio de atado no sentido Olho > Gap.
2- Ate duas pernas finas de borracha (amarela ou branca), paralelamente, no final da haste do anzol.
3- Passe cola e posicione a fenda do EVA na haste
4- Faça os anéis do abdome da mosca desenhando-os paralelamente com o próprio fio de atado, deixando apenas o 1/3 anterior da placa para construir o tronco e a cabeça. OBS: não faça muita compressão no EVA pois poderá comprometer sua flutuabilidade. Apenas no último anel pode-se fazer uma pressão maior, de forma que já fará a separação entre o abdome e o tronco.
ASAS:
1- Recorte a espuma em forma de um coração bem “magrinho e comprido”:
2- Ate as asas abertas ou fechadas (a critério) um pouco além do abdome. OBS: As Stones recém eclodidas ficam com as asas abertas e após “secarem” elas se fecham.
PERNAS TRASEIRAS:
1- Prenda uma perna fina de borracha de cada lado na divisão entre o abdome e tronco.
CABEÇA E ANTENAS:
1- Divida esse espaço anterior do EVA ao meio e faça a segmentação entre o tórax e a cabeça, após ate a parte anterior da perna traseira.
2- Técnica da agulha: Transfixe a agulha entrando na parte posterior da cabeça e saindo na parte anterior em posição contralateral; passe a leg pelo olho da agulha e acabe de atravessar. Repita da mesma operação do outro lado.
PERNAS ANTERIORES:
1- Ate mais dois pedaços de legs finas na intersecção entre o tronco e a cabeça.
2- Nesse momento já pode dar o nó de finalização.
ACABAMENTO:
1- Técnica da agulha: Transfixe a agulha no final do abdome em direção oblíqua, passando as legs finas pelo olho da agulha, dessa forma:
2- Pinte os olhos e a cabeça da mosca conforme a sua anatomia natural.
Considerações:
Optei por fazer a Yellow Sally pela sua grande presença no cerrado e pelo fato de ser amarela, o que nos dará boa visualização em arremessos longos. Ainda não foi testada, mas assim que testarmos formularemos novas considerações.
A ténica das agulhas abre um universo de opções de receitas em que o mosqueiro, certamente, criará inúmeras.
Bom atado!
Leandro Vitorino