domingo, 4 de novembro de 2012

ECLOSÕES E REVOADAS NO CERRADO 2012:






Texto: Leandro Vitorino
Fotos: Arquivo GO FLY
PICOS DE ECLOSÃO (MAYFLY, DOBSONFLY E STONEFLY):

Mayfly do Paiol Velho
Em setembro assistimos a um grande pico de eclosão de Mayfly (Siriruia), junto a um “tímido” pico de Stoneflies. Identificamos uma espécie de Mayfly diferente das que já conhecíamos, desta vez estávamos diante de uma Mayfly bem maior. As mayflies eclodem derivando na superfície da água, enquanto as Stones, as Dragonflies (libélula) e as Damselflies (donzelinha) escalam em alguma estrutura na beira do rio para eclodirem.

Exoesqueleto de stonefly (Yellow Sally)
Stone adulta (Yellow Sally)



Yellow Sally GO FLY
As Mayflies possuem em seu ciclo de vida uma passagem muito efêmera pela fase terrestre, durando algumas vezes apenas 24 horas, morrem logo após a postura dos ovos na água, por isso são classificadas como efemerópteras. Este ano tive a oportunidade de fazer um vadeo um dia após um Hatch de Mayfly num rio do cerrado, o legal é que ao mesmo tempo em que víamos exoesqueleto das ninfas que eclodiram no dia anterior, também víamos corpos das adultas que postaram seus ovos naquele dia. As explosões das pirapitingas na superfície eram constantes.

Libélula (Dragonfly) recém eclodida. Foto: Leandro Vitorino
Enquanto as dobsonflies, nunca havia visto um pico de eclosão tão grande, realmente tivemos muita sorte de ver algo tão inusitado.


Ninfa de Dobson (Hellgramitte). Foto: Leandro Vitorino
Estojo de Siriruia (efemeroptera) após eclosão. Foto: Leandro
REVODAS DE CIGARRINHAS DAS PASTAGENS:

Cigarrinhas brancas. Foto: Martinelli
     Durante dois meses (setembro e outubro) tivemos uma imensa revoada de cigarrinhas brancas, diariamente elas encantavam nosso sertão. Foi a maior revoada dessa espécie que eu me lembro. Também fizemos um vadeo em plena revoada dessas cigarras, foi uma experiência bem produtiva. Naquele dia, mais de 20 pirapitingas foram fisgadas, soltas e catalogadas em nosso projeto.
GAFANHOTOS (Grasshopper), GRILOS (Cricket) E ESPERANÇAS:

Casal de tucurões. Foto: Leandro Vitorino
Os gafanhotos estão presentes o ano inteiro e se reproduzem o ano inteiro, mas seu pico de desova ocorre de dezembro à fevereiro, quando a vegetação está mais verde.

Ninfas de gafanhotos. Foto: Leandro Vitorino
Existem dois momentos em que notamos uma maior movimentação dos gafanhotos aqui no cerrado: uma em março, quando a maioria das ninfas de gafanhotos já criaram asas e começam a voar; a outra ocorre nos meses secos e quentes (agosto, setembro e outubro), em que a sequidão da vegetação obriga os gafanhotos a se movimentarem mais, a procura de folhas comestíveis, uma vez que são exclusivamente herbívoros. Nas áreas de pesquisa do projeto, não observamos grandes revoadas alimentares desses insetos, com prejuízo econômico às lavouras, provavelmente porque nessas áreas não possui um desequilíbrio ecológico tão notável. Aqui no cerrado já fotografei mais de trinta espécies de grilos, gafanhotos e esperanças. Segue uma pequena amostra (fotos: Leandro Vitorino):























Tucurão
REVOADAS DE CUPINS:

Cupinzeiro maduro
As aleluias, forma alada dos cupins, inauguram as primeiras revoadas do período chuvoso. Logo nas primeiras pancadas de chuvas de outubro já notamos sua presença. Grande parte do cerrado possui um solo ligeiramente ácido, o que propicia a desenvolvimento dos cupins, por isso observamos inúmeros cupinzeiros nesse bioma.
A GRANDE REVOADA: SAÚVAS (TANAJURAS E BITÚS):

Sauveiro maduro
Bitu à beira do rio. Foto: Leandro Vitorino
Em 2010 essa revoada se iniciou no dia 15 de outubro, em 2011 no dia 10 de novembro e agora nesse ano (2012) ela iniciou ontem (02 de novembro). 

Bitu à deriva. Sinal de muitos ataques na superfície. Foto: Leandro Vitorino
Ontem, após uma chuva, o forte odor de ácido fórmico pairando no ar não deixou dúvidas: iniciavam-se as primeiras revoadas de saúvas no centro-oeste brasileiro do ano de 2012. Essas primeiras revoadas partem de sauveiros já maduros, mas os que ainda estão para amadurecer ainda revoarão até aproximadamente 20 de novembro aqui em Goiás. A estratégia de revoar após as chuvas não é mera coincidência, pois as tanajuras dependem de um solo mais “amolecido” para cavar os seus túneis. Após o acasalamento os bitus (machos) morrem, enquanto as tanajuras (fêmeas) perdem suas asas e perfuram seus túneis. Lá no fundo, elas farão a postura dos ovos e uma nova colônia nascerá.

Saúvas no trabalho.
Tanajura cavando seu túnel. Foto: Leandro Vitorino
A revoada de saúva, indubitavelmente, é o principal fornecedor de alimento para as pirapitingas no período pré-desova. As tanajuras e bitus nutrem as pirapitingas com uma grande quantidade de proteína e demais nutrientes, justamente no período em que mais necessitam. Nessa fase, a pirapitinga está em alto metabolismo celular, maturando seus ovócitos e espermatozoides. As primeiras chuvas, juntamente com a revoada das saúvas, são o “tiro de largada” para a "piracema" das pirapitingas. Apesar de ainda não estar bem definido se a pirapitinga é um peixe de piracema ou não, sabemos que elas fazem pequenas subidas de migrações para desovar.


Tanajura GO FLY
ATENÇÃO MOSQUEIROS DO CERRADO!:
A desova da pirapitinga ocorre principalmente no final de novembro e começo de dezembro. Cuidado com o vadeo! A pirapitinga desova em águas rasas e possui ovos grandes, fácil de pisar e serem destruídos. Respeitem o período de defeso! Ano que vem tem mais se vocês assim permitirem!
FOTOS DO ÚLTIMO VADEO DE 2012 (fotos: Luiza Dornfeld):
Saíra-amarela.







Ariramba.
Saída de água (saia do poço) também é um bom local de apresentação.

Trazer o peixe para fora do poço onde fez a captura é uma ótima estratégia para uma segunda captura no mesmo poço.

Att,
Leandro Vitorino