Texto: Leandro Vitorino
Fotos: Ian de Sulocki, Jarbas, guias Kalua e Leandro Vitorino
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Troféu amazônico (Cichla temensis). Foto: Jarbas |
Minha mãe lavava roupa num açude
no interior do Tocantins, próximo da nossa casa, enquanto isso eu observava um
velho pescador fisgando lambaris na minhoca e enchendo sua velha capanga de
pano, costurada à mão. Percebi o quanto aquele pobre pescador era feliz, ali
sozinho, curtindo o seu momento. Eu ficava matutando: quando eu crescer vou
querer ser pescador para ter a mesma felicidade desse velho. Escutei uma voz
ao fundo ordenando: “menino, ajuda aqui... pega a bacia, vambora que ainda
tenho que fazer almoço”- era minha mãe. Aí acordei...Vinte oito anos depois, ali
estava eu, no meio da floresta amazônica, subindo o Rio Negro no Barco-Hotel
Kalua, em busca dos grandes tucunarés-açús.
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Bacia do Rio Negro. Foto: Leandro Vitorino |
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Um dos milhares de lagos da Bacia do Rio Negro (AM). Foto: Leandro Vitorino |
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As águas negras bordam as praias de areias brancas. Foto: Leandro Vitorino |
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Barcelos, a primeira capital do estado do Amazonas. Foto: Leandro Vitorino |
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Embarcação de um "piabeiro" ao lado do seu viveiro de peixes ornamentais. Foto: Leandro Vitorino |
Pontualmente as 5:30 da manhã
batem na porta, acordando os pescadores. Tomamos um saboroso café da manhã, as
6 horas entramos na voadeira, ainda escuro e percorremos alguns quilômetros no
Rio Negro até chegar a uma boca de lago...
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Guia Edivan (Kalua) abrindo a entrada do lago. Foto: Leandro Vitorino |
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Arraias, perigo nas rasuras. Foto: Leandro Vitorino |
Tira motor, arrasta canoa, corta pau,
pisa em espinho, espanta as arraias e enfim...
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O trabalho do guia é fundamental na procura dos Açús. Foto: Leandro Vitorino |
Ali estávamos nós dentro de um
lago selvagem totalmente preservado. Depois de tanta preparação técnica, física
e mental, não queria que nada saísse errado.
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Lagarto amazônico que escala árvores e nada muito bem. Foto: Leandro Vitorino |
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O nível da água no fim da temporada encontra-se bem baixo. Foto: Leandro Vitorino |
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Tucunaré Borboleta (Cichla orinocensis). Foto: Ian de Sulocki (Kalua) |
Primeiro vieram os Borboletas e
Popocas, misturado as traíras, em pouco tempo sairam os Pacas e com muita
insistência e resistência subiram os grandes Açús. A força dos Açus é
inigualável aos outros tucunarés, impressionando em suas primeiras arrancadas.
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Tucunaré Popoca (Cichla monoculus). Foto: Edivan (Kalua) |
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Açú |
Utilizei o bait casting e a pesca
com mosca como modalidades. A pesca com mosca mais uma vez se mostrou
extremamente promissora, valorizando a luta com o peixe e elevando o sabor da
conquista. Ao longo de cinco dias inteiros de pesca, saíram inúmeros peixes na
mosca, os maiores sempre vindo após muito exercício.
Vim à Amazônia acreditando que
arrancar os grandes açús da água é tarefa fácil é subestimar a própria
grandiosidade amazônica.
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Os ataques dos grandes machos de açús são provocados principalmente por irritação, territorialismo e proteção das proles. Foto: Jarbas |
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Foto: Jarbas |
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Foto: Jarbas |
Os grandões estão lá, mas é preciso ralação! Os jovens
açús possuem um padrão “paca” de cor e à medida que vão amadurecendo passam por
um padrão “paca-açú” até alcançar o padrão “açú-adulto”, estando prontos para o
acasalamento. A fêmea com padrão “paca-açú” já é capaz de se reproduzir,
enquanto aos machos com padrão “paca-açú” eu tenho minhas dúvidas. O fato é que
só encontramos machos com cupim no padrão de coloração do adulto, nunca vi um
paca com cupim. As fases de maturação do açú assemelham-se as do Tucunaré-azul,
que também passam por uma fase “paca” de cor. Os pacas, por serem jovens,
mostram muita força e disposição na ponta da linha. Alguns açús possuem um
potencial genético tão bom que é possível encontrar pacas acima dos seis
quilos. Alguns acreditam que os tucunarés-açús após atingirem seu padrão adulto
de cor, podem voltar a apresentar o padrão paca, de forma intermitente, eu não
creio que isso aconteça. Mas, saindo do foco científico, vamos voltar a nossa
pescaria...
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Jovem Açú com seu padrão "paca" de cor. Foto: Ian de Sulocki |
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Tucunaré Açú em fase de amadurecimento com padrão "paca-açú" de cor. Foto: Jarbas |
Os tucunarés borboletas às vezes
formam grandes cardumes e fazem a festa do pescador esportivo. A pintura do Borboleta
se contrasta às águas da Bacia do Negro e produzem uma “textura” bem
interessante. Os Popocas são bem agressivos e dão um tempero especial à
pescaria.
ENCONTRO COM OS AÇÚS
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Amigo Jarbas com seu Açú. Foto: Leandro Vitorino |
No primeiro dia de pesca fizemos
apenas um aquecimento no final de tarde, calibrando os arremessos e
condicionando o cérebro aos movimentos que seriam realizados umas mil vezes por
dia, nos próximos cinco dias.
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O jovem Cichla temensis ("Paca") começa a perder suas pintas da cabeça para o rabo, quando as pintas estão só na metade do corpo são chamados "Paca-açú", quando perdem todas as pintas são chamados de Açú. Foto: Jarbas |
No segundo dia de pesca, consegui
por a mão em dois bons tucunarés. No terceiro dia, no finalzinho de tarde, meu
companheiro Jarbas persistia nos arremessos, enquanto eu já estava sentado, só
apreciando a vista, observando o sol que se acomodava na mata densa. Até parece
mentira, mas eu estava sentado, fiz um pincho despretensioso não muito longe do
barco e ao recolher senti a linha travar, achei que fosse um enrosco, mas a
tomada de linha denunciava um peixe grande...
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Leandro e o guia Edivan comemorando um grande Açú. Fotos: Jarbas |
O freio apertado ao máximo não
conseguia conter o peixe rumo às galhadas. As primeiras arrancadas foram bem
fortes, até que consegui encabeçá-lo para o fundo, fora das estruturas. A
primeira fez que pude ver sua silhueta na superfície fiquei impressionado com
seu tamanho e beleza. Ao embarcá-lo o guia Edivan e meu companheiro Jarbas
comemoraram juntos comigo o grande Açú que se revelava. Fotografamos e o
devolvemos para água bem ativo.
Fotos- Jarbas:
Retornamos ao Kalua bem felizes, para um bom
banho, boa comida e um merecido descanso.
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Peixe fresco preparado pelos guias. Foto: Leandro Vitorino |
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Atando no barco. Foto: Jarbas |
Nos dois últimos dias tive a
honra de pescar com o Ian. Foi ótimo conhecer uma pessoa de tão bom caráter,
muito conhecimento e sempre disposto a compartilhar seu aprendizado após anos
vividos com os Açús.
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Muitas vezes a dificuldade de entrar num lago é sinônimo de bons peixes. Foto: Leandro Vitorino |
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Trabalho da Hélice. Foto: Leandro Vitorino |
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Foto: Leandro Vitorino |
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Pacão. Foto Leandro Vitorino |
No último dia, atingimos a incrível marca de 128 tucunarés
capturados em apenas um dia de pesca, fora os outros peixes de outras espécies.
Foi o dia de maior produtividade que já tive em toda minha vida, o que para o
Ian era um fato rotineiro.
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Ian e eu explorando um lago em que a embarcação não chegava. Foto: Edivan |
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Paca e borboleta num lago fechado. Foto: Edivan |
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As bocas de comunicação entre o rio e os lagos fornecem muitas presas aos tucunarés, mas quando esses lagos perdem a sua comunicação com o rio essa fonte de alimento é cortada, fazendo os tucunarés ficarem "famintos", possibilitando inúmeras capturas. Foto: Ian |
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T. Borboleta na mosca. Foto: Edivan |
UM POUCO DA FAUNA LOCAL:
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Jacaré-Açú. Foto: Leandro Vitorino |
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Cabeça-seca. Foto: Leandro Vitorino |
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Louva - Deus. Foto: Leandro Vitorino |
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Tucurão verde. Foto: Leandro Vitorino |
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Tucurão. Foto: Leandro Vitorino |
VOLTANDO À PESCA:
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Entrando em mais um lago. Foto: Leandro Vitorino |
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Boa estrutura para arremessos. Foto: Leandro Vitorino |
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Açuzão explodindo na hélice. Foto: Ian |
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Foto: Ian |
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Apaiari na mosca = força desproporcional ao tamanho. Foto: Ian |
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Paca-açú na mosca, boa resistência. Foto: Ian de Sulocki |
Foi uma experiência muito
gratificante pescar na Amazônia, conhecer um pouco dos seus animais e como as
pessoas que ali vivem se adaptaram à selva. A convivência do homem na Amazônia
gerou uma cultura regional de extrema riqueza, na qual índios e mestiços
aprendem a respeitar as forças da natureza, moldando um misticismo próprio, que
envolve e alimenta a alma do ribeirinho amazonense.
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Ian com um legítimo Açú. Foto: Leandro Vitorino |
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O territorialismo motiva mais os grandes machos de açú ao ataque do que a própria vontade de comer. Foto: Ian de Sulocki |
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Foto: Ian de Sulocki |
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Foto: Ian de Sulocki |
Quero deixar meus agradecimentos ao Ian, ao Mega
e toda a tripulação do Kalua Barco-Hotel, que com bastante boa vontade e
competência, nos colocaram num dos melhores pontos de pesca da Amazônia. Obrigado companheiros de viagem que também somaram novas amizades. Ao
Kelven, muito obrigado pelo empréstimo de equipamentos de baitcasting e dicas.
Espero voltar em breve...
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O império dos Açús. Foto: Leandro Vitorino |
EQUIPAMENTOS:
FLY CASTING (que recomendo):
A) Varas de #9 à #12 de ação rápida, com 9 à 10 pés
de comprimento. Considero que as moscas maiores selecionam os tucunarés
maiores, exigindo assim um equipamento mais forte.
B) Moscas:
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Moscas que recomendo. Foto: Leandro Vitorino |
As duas moscas que mais me renderam bons
resultados foram os poppers e um Streamer listrado muito especial: é um
streamer com cauda de EP, bucktail e brilho, corpo com Craft-fur e EP sparkle,
com cabeça tipo “muddler” de EP e olhos 3D. Um anzol 2/0 é mais do que
suficiente pra segurar qualquer Açú, mas utilizei o 3/0 (SP 600 da Tiemco), pois
seu maior peso dava um maior lastreamento a mosca, além de gerar um maior equilíbrio, evitando que a mosca gire durante as puxadas, algo que pode acontecer se
você atar uma mosca com cabeça muddler de EP utilizando um anzol leve.
C) Leader: um único pedaço de 1,2m de fluocarbon
0,60 mm foi o que mais achei adequado para a situação, facilitou meus arremessos e
preservou uma boa quantidade de energia até as moscas pesadas que utilizei. O
fluocarbon afunda mais que o nylon, além de possuir uma boa transparência. O
fluocarbon tem um poder de abrasão melhor que o nylon, como todos sabem, porém possui
uma resistência à tensão menor que o nylon, o que de certa forma acaba
protegendo seu equipamento caso o peixe coloque sua linha de fly no limite de tensão, fato que ocorre quando impedimos o Açú de nadar rumo às galhadas.
D) Linha: utilizei apenas linhas flutuantes com
cabeça curta, mas credito que as linhas intermediate também farão um bom papel.
BAITCASTING (o que utilizei):
Varas de 25 libras, de ação rápida;
Linhas de multifilamento de 60 libras;
Leader de fluocarbon 0,52 mm, com 1,2m
de comprimento;
Grampo (Snaps) reforçados;
Iscas: Zaras, hélices, tuich bait,
meia-água e jigs de 30-40 gramas.