quinta-feira, 19 de maio de 2016

DOURADÕES E PIRAPUTANGAS DO CERRADÃO MATO-GROSSENSE

Texto: Leandro Vitorino
Fotos: Arquivo GO FLY
Esplendor dourado em seu momento máximo. Foto: Leandro Vitorino.
O Pantanal brasileiro é um nobre bioma de muito reconhecimento nacional e internacional, seja por pescadores ou por amantes da natureza de diversas outras atividades, como fotografia de natureza, flutuação nos rios cristalinos, safaris, etc. Mas, não podemos nos esquecer de que é no cerrado que brotam e correm a maioria dos rios formadores do Pantanal, seja no Mato Grosso ou Mato Grosso do sul.

O elegante voo dos casais das araras-canindé. Foto: Leandro Vitorino.
Alma-de-gato. Foto: Leandro Vitorino
Foto: Leandro Vitorino.
Martim-pescador. Foto: Leandro Vitorino.
Ariramba-de-cauda-ruiva. Foto: Leandro Vitorino.
Aracuã-do-pantanal. Foto: Leandro Vitorino.
Socó-boi. Foto: Leandro Vitorino.
Como um eterno apaixonado pelo cerrado brasileiro, esse rico bioma está constantemente me surpreendendo com suas múltiplas facetas e sua rica biodiversidade. E foi no cerradão do Mato-Grosso, mais precisamente no Rio Manso e Cuiabazinho que eu e meu amigo Kelven Lopes embarcamos numa bela flotada à brasileira, atrás dos dourados e piraputangas.

Ribeirinho no Rio Manso. Foto: Leandro Vitorino.
O local, por si só já vale a viagem, mas pra engrandecer ainda mais nossa aventura mosqueira, tive a honra de ser guiado por duas pessoas de alto nível técnico e boa índole: Robson de Brito encabeçou essa operação de flotadas na região, não demorou muito pra incendiar o grande potencial de seu cunhado Luniel, juntos exploraram o Rio Manso, montando as rotas e organizando a logística para que mosqueiros do mundo inteiro pudessem ver que o Brasil tem mosqueiros empreendedores, não deixando nada a desejar em relação às operações gringas. Fato que muito me orgulhou em ser um mosqueiro brasileiro.

Preparado pra empreitada... Foto: Leandro Vitorino.
Rio Manso. Foto: Leandro Vitorino.
Luniel, super técnico, carismático, empenhado em nos colocar "na cara do gol". Exemplo de respeito a pesca com mosca brasileira! Foto: Leandro Vitorino. 
Amigo Kelven em busca dos dourados. Foto: Leandro Vitorino.
Cravado em pleno cerradão mato-grossense, próximo de Cuiabá, no município de Nobres, essa operação de flotada é, sem dúvida, a maior sacada mosqueira dos últimos tempos, por isso tem ganhado enorme notoriedade entre os mosqueiros.

Mais um pincho no "hot point". Foto: Leandro Vitorino.
Foto: Robson de Brito.
Foto: Robson de Brito.
Kelven na labuta. Foto: Leandro Vitorino. 

Amigo Kelven e seu dourado. Foto: Leandro Vitorino.
O profissionalismo, a receptividade e o espírito de desbravamento são as marcas registradas dessa operação. Fiquei muito bem hospedado numa linda pousada de ecoturismo, com direito a rio de água transparente para flutuação, repleto de piraputangas, piaus, curimbas, piaparas e alguns dourados. Tudo isso à 200 metros do meu quarto. Alimentação deliciosa, cerveja gelada e um bom papo mosqueiro pra finalizar a noite.

"Porrada na mosca!" Foto: Leandro Vitorino.
Foto: Leandro Vitorino.
Desembarque para pelear com os pés na água. Foto: Leandro Vitorino.
Fúria do Rei. Foto: Leandro Vitorino.
"Barra de ouro" ao encontro do mosqueiro. Foto: Leandro Vitorino. 
Bela pintura e caudas bem formadas são as características dos douradões do Manso. Foto: Leandro Vitorino.
Amigo Kelven feliz com sua bela captura. Foto: Leandro Vitorino.
Dourado: sem dúvida uma das espécies mais cobiçadas pelos mosqueiros a nível mundial. Foto: Leandro Vitorino.
Apenas tomávamos café e jantávamos na pousada, nosso almoço era no rio, durante a flotada: um delicioso frango caipira preparado no capricho pela Dona Miguelina, seguido de seu doce caseiro, essas eram umas das serventias do quintal dessa simplória e sábia senhora... depois duma espichada na rede de alguns minutos. Logo chegava e um cafezinho passado na hora e uma água na cara pra despertar a mosqueirada... Mas também teve dias de saborearmos um suculento Bife Ancho ao ponto, “chique nu úrtimo”...


"Dizer o quê?" Foto: Leandro Vitorino.
Um dos nossos almoços no aprazível quintal da Dona Miguelina. Foto: Leandro Vitorino.
Bom apetite! Foto: Leandro Vitorino.
Amanhecer no Rio Manso. Foto: Leandro Vitorino.
Sinais das fortes cheias da região. Foto: Leandro Vitorino.
Salto do Rei. Foto: Robson de Brito.
Andino, consagrada como a melhor mosca para os salminus. Foto: Robson de Brito.
Mais um dourado na ponta da linha. Foto: Robson de Brito.
Satisfação mosqueira. Foto: Robson de Brito.
Os snaps próprios para fly são leves, facilitam a troca das moscas. Foto: Robson de Brito.
Breve parada para descanso e apreciação do rio. Foto: Leandro Vitorino.


Uma das "corredeiras douradas" do Manso. Foto: Leandro Vitorino.
Meu parceiro kelven já era experimentado no local, por isso tive a sorte de receber boas dicas logo no primeiro dia de flotada, sem contar que nosso guia Luniel, com muita habilidade e inteligência intuitiva, posicionava nosso bote de frente às áreas nobres: cabeças de pedras, entradas e saídas de corredeiras, tudo isso com toda estabilidade e poucos ruídos que nosso bote oferecia. Rapidinho, entendi por que o bote era muito mais eficiente do que as embarcações de alumínio motorizadas naquelas situações. As canoas de alumínio nunca chegariam nos "hot-points" de dourado como os botes, e caso chegassem poderiam ser inseguras ou produzir muito ruído.

Sarã nas margens: ponto típico de piraputangas. Foto: Leandro Vitorino.
Piraputangas, um briconídeo extraordinário. Foto: Leandro Vitorino.
Leandro Vitorino e sua piraputanga do Rio Cuiabazinho. Foto: Kelven Lopes.
Bela piraputanga no streamer. Foto: Kelven Lopes.
Ataque da piraputanga ao gafanhoto GO FLY, coisa linda! Foto: Leandro Vitorino.
Ação em detalhe. Foto: Leandro Vitorino.

Terrestriais e briconídeos são uma combinação perfeita. Foto: Leandro Vitorino.
Kelven e sua saltadeira piraputanga. Foto: Leandro Vitorino.
Com o bote de lona, fazíamos as cabeceiras das corredeiras, mesmo a parte mais rasa, depois, descíamos sem nenhum problema e imediatamente já atacávamos a parte de baixo, sem desperdiçar nenhum ponto. Mesmo com nosso excelente guia nos colocando de “cara para o gol” a captura do dourado exige boa técnica do mosqueiro, afinal o dourado do rio Manso é meio arisco, talvez pela água clara. O arremesso exigia uma certa precisão, para que a mosca passasse no local mais promissor de ataque. A fisgada, feita exclusivamente com a mão da linha, tinha que ser rápida e bem calibrada, para que imediatamente, na primeira corrida alucinante do douradão, não esteja tão travada por completo e arrebentasse.

Macaco-prego na mata ciliar. Foto: Leandro Vitorino.
Capivara. Foto: Leandro Vitorino.
Cardume de douradões e um pacu solitário. Foto: Leandro Vitorino. 
Belo douradinho. Foto: Leandro Vitorino.
Mais um "brigão" dourado do Manso. Foto: Leandro Vitorino.
Ver um douradão na faixa de 10 kg saltando com toda fúria naquela corredeira rasa, reluzindo suas cores vibrantes foi algo fantástico, coisa de encher os olhos e que certamente habitará, eternamente, os pensamentos com nítidas lembranças.


Teve até um belo Pacu pego no trabalho lento do andino no Rio Cuiabazinho... coisa linda de se ver aquele peixe forte e saudável...


No rio Cuiabazinho, com o trabalho lento do andino bem próximo dos sarãs eis que entra um tanque de guerra... Foto: Leandro Vitorino. 
Foto: Leandro Vitorino.
Amigo Kelven e seu forte combatente. Foto: Leandro Vitorino.
Esse pacu legítimo merecia mais um click. Foto: Leandro Vitorino.
Andino bem fisgado. Foto: Leandro Vitorino.
Preparando para a soltura. Foto: Leandro Vitorino.
As piraputangas também deram um show a parte, exigindo uma aproximação silenciosa e uma apresentação precisa do gafanhoto GO FLY rente aos sarãs que tocavam a água. Quando tudo isso ocorria de forma perfeita, era fatal o ataque das explosivas piraputangas, difícil mesmo era desvencilha-las das mandíbulas dos famintos dourados que as atacavam logo em seguida. Cenas de pura selvageria, que só indo lá para ter real ideia desses episódios.


O belo douradão do manso. Foto: Leandro Vitorino.
Andinos amarelos foram os mais produtivos. Foto: Leandro Vitorino.
Mais uma pra registrar o inesquecível momento. Foto: Leandro Vitorino.
Parada pro almoço, debaixo da sombra, saboreando um suculento bife ancho. Foto: Leandro Vitorino.
"Será que tava bão!?". Foto: Leandro Vitorino.
Foram várias passagens inesquecíveis, mas uma delas, em especial, quero relatar: Logo no primeiro dia, começamos a nossa flotada apenas as três horas da tarde. Meu parceiro Kelven, fisgou um lindo dourado, tivemos investidas de outros também, porém sem sucesso. No inicio da noite, quando mal se conseguia enxergar a mosca, iniciou um Hatch intenso de Mayfly, cena típica de Patagônia, mas em pleno rio do cerradão. Na última corredeira antes de chegar em nosso destino final, consegui visualizar uma cabeça de pedra promissora, fiz o pincho e logo nas primeiras puxadas um tranco seco... a fisgada foi automática e a veloz e forte tomada de linha do peixe me impressionou... eis que salta um lindo douradão, reluzindo já as luzes da noite estrelada... a batalha foi intensa... quase vinte minutos de cabo de guerra entraram noite a dentro... o peixe parecia estar “apoitado”... hehe... minha vara rápida de carbono #9 mais parecia uma vara de bamboo... enfim, a sequência de fotos falam por si...

Douradão entrando na boca da noite em pleno hatch de Mayfly. Foto: Kelven Lopes.
Final da batalha desembarcado para facilitar a captura. Foto: Kelven Lopes.
Nosso super-guia Luniel registrava também os bastidores. Foto: Luniel.
Leandro Vitorino e o belo dourado do Manso. Foto: Kelven Lopes.
As cores do rei do rio eram vibrantes e dava pra sentir os batimentos cardíacos do gigante nas minhas mãos. Inesquecível!  Foto: Kelven Lopes.
Vários outros momentos de “adrenalina dourada” foram saboreados, alguns dourados apenas seguindo a mosca, outros rompendo empates de aço de 30 libras com certa facilidade quando eram pegos nas rasuras, locais que os deixavam acuados e extremamente enfurecidos...

Uma pintura de peixe. Último click antes de voltar pra água. Foto: Kelven Lopes.
Fica aqui meu breve relato e minha recomendação dessa operação mosqueira que muito nos orgulha de ser genuinamente brasileira!!!


EQUIPAMENTOS RECOMENDADOS


Foto: Leandro Vitorino.
VARAS:

Vara #6 e #7 de ação moderada para piraputangas;
Varas #8, #9 e #10 de ação rápida para os dourados.

LINHAS:

FLOATING E SINKING TIP, sendo que na maioria do tempo utilizamos a floating, em algumas poucas situações a sinking tip se mostrou mais adequada.

LEADER (1,5 à 1,8 m):

Duas partes: 0.60 mm + 0,50 mm

EMPATE DE AÇO FLEXÍVEL:

De 30 e 40 libras para os dourados.

MOSCAS:


Andino atado em anzol 2/0. Foto: Leandro Vitorino.
Andinos sem sombra de dúvida são os mais produtivos, na ocasião tivemos melhores ações nas cores claras, em especial os amarelos.
Streamers de fibras utilizávamos nas poucas situações de cansaço, afinal pinchar andino o dia inteiro não é nada fácil...
Terrestriais: utilizamos apenas o Gafanhoto Go fly, atados em anzol #4 e #2 (2XL), nas piraputangas, inclusive com alguns belos ataques de dourados, porem rompendo o tippet.


CONTADO PARA OPERAÇÃO:

Com nosso querido e competente amigo Marcos Glueck (Marcão)