RIO GRANDE, aprendizado e muita saudade...
Texto e fotos-sub: Leandro Vitorino
Fonte de inspiração para muitos viajantes e escola para os novos e velhos pescadores do interior de São Paulo e Minas, o Rio Grande ainda se mostra como um rio de belos peixes para quem se dispõe em explorar cada palmo de suas águas. Castigado pela expansão agrícola, o seu caudaloso leito ainda respira amargurado entre as barragens hidroelétricas que aprisionam suas águas durante seu longo trajeto até o Rio Paraná.
Hoje, raramente se encontram dourados, piracanjubas, pintados e jaús, que sempre foram os nobres peixes que dominaram sua Bacia por milhões de anos.
Predador e presa se encaram. Foto: Leandro Vitorino
Os piapareiros, curimbeiros, corvineiros e tucuneiros representam a identidade atual dos pescadores do Rio Grande.
Jovem casal de azuis. Foto: Leandro Vitorino
Para nós, mosqueiros, a pesca que se torna mais produtiva e interessante nesse rio é a de tucunarés azuis e amarelos, nativos da Bacia do Tocantins.
O Rio Grande é tímido ao homem e só mostra suas qualidades quando bem explorado após inúmeras visitas.
Após alimentar-se, a traira se aquece em águas rasas e quentes para aumentar seu metabolismo e digerir o alimento. Foto: Leandro Vitorino
Mergulhar e pescar em suas águas foi minha rotina semanal por seis anos, quando estudei medicina em Uberaba (UFTM). Frequentei inúmeros trechos entre suas barragens. As barragens de Jaguara, Delta, Volta Grande, Porto Colombia, Orindiuva e Água Vermelha foram as que mais visitei, tanto a jusante quanto a montante dessas barragens.
Macho-alfa de T. azul em seu cardume. Foto: Leandro Vitorino
Posso dizer que o Rio Grande me marcou bastante, por isso o considero minha faculdade de pesca, pois lá pratiquei bastante a pesca e o mergulho em apnéia, foi a época em que me conscientizei sobre a importância da preservação da biodiversidade. Aproximadamente 90 % de minhas incursões ao Grande era sozinho, passava até 10 horas dentro da água sem nenhum contato humano, apenas avistava barcos de pescadores que passavam à distancia. Ví as maiores crueldades à natureza que se pode imaginar e minha fuga espiritual sempre estava lá, me aguardando de braços abertos para mais um mergulho em suas águas.
Em certa época passei até a não gostar mais de gente, me isolava, parecia até mesmo um bicho do mato. Tinha dias que eu não queria voltar para a cidade, e na beira daquele imenso rio, ficava admirando sozinho o por do sol, mas, mais uma vez tinha que voltar para casa. Isso era uma verdadeira tortura pra mim, mas tinha que voltar. Gostava tanto daquelas águas que chegava a ter abstinência. Me sentia mais confortável sozinho à 15 metros de profundidade no Rio Grande do que em minha própria casa.
Tinha dias que ele quase me levava, mas o rio era meu amigo...ele me queria vivo...não sei o porquê...talvez seja para que um dia eu pudesse defender seus seres desprovidos de voz, como faço hoje.
Captura no por do sol, a triste hora de ir embora...
O paradoxo era que minha profissão me ensinava a cuidar da maior riqueza do homem, a sua saúde. Até que me conformei e voltei a viver com mais harmonia com as pessoas. Mas sem esquecer que todos aqueles que me cercavam, inclusive eu, eram responsáveis por aquele sofrimento que eu assistia e que incorporei por vários anos ...parecia que eu sentia a dor daquele lugar. Era impressionante a sintonia que eu tinha com aquele rio.
Mergulhando em alguns dos principais pontos desse importante rio brasileiro por apenas uma década me atentei do quanto é crítica a situação de sobrevivência das criaturas do meio aquático. Assisti cardumes imensos desaparecerem de determinados trechos de rio, vejo grandes peixes sobreviverem à duras penas, sendo pescados e caçados até o esgotamento.
Infelizmente, pouco se pode fazer para barrar esse caos. A cultura brasileira, a corrupção e as grandes áreas para serem monitoradas tornam a vida das criaturas aquáticas cada vez mais difíceis.
O ano passado memorizou cem anos do nascimento do explorador que mais influenciou mergulhadores e ambientalistas de todo o mundo. O capitão Jacques Coustou e sua equipe fizeram o mundo parar diante de suas cenas submarinas que coletavam durante suas incríveis viagens pelos oceanos. Em décadas passadas, esse gênio já descrevia em seus relatos o quanto alguns daqueles ambientes aquáticos já haviam se degradado após sua última visita. Se por cima da água já podemos perceber todo esse desgaste, o contato real, através do mergulho, acaba tornando essa percepção ainda mais nítida.
Para não falar só de assuntos tristes sobre o desrespeito com a natureza, posto aqui algumas fotos do Rio Grande.
Tucunaré azul (Cichla piquiti)
O valente Tucunaré amarelo (Cihla monoculus)
Aos amigos do sudeste, o meu abraço!
Amigo Eduardo e seu tucunaré
Ao meu amigo Rio Grande, minha eterna saudade...
Que beleza de artigo amigo Leandro! As fotos, então nem vou comentar..rs rs. Eu conheço bem este sentimento bucólico e nostálgico que descreveu. Mas é de batalhas que se vive a vida e vamos continuar buscando estes ideais e sempre lutando pela preservação da VIDA. Parabéns! Um grande abraço,
ResponderExcluirJames Blanco Nunes
Oi Leandro,
ResponderExcluirO tucunaré amarelo do rio Grande é o Cichla kelberi.
Gde abraço
Leandro Muller Gomiero
Amigo James,
ResponderExcluirMais uma vez obrigado pela visita, estamos aí e nunca iremos desistir...
Leandro,
Me parece que o amarelo do Rio Grande é o C. monoculus mesmo. O C. Kelberi acredito que seja o tucunaré pitanga ou aquele amarelo lá do Guaporé.
Não tenho como consultar isso agora, mas se puder faça uma pesquiza pra nós, por favor, ok?
Obrigado pela visita e aguardo sua ajuda para esclarecer a nós essa dúvida,ok!
Visite sempre!
Att,
Leandro Vitorino
Leandro,
ResponderExcluirEssa é a classificaçào mais recente que consegui achar dos tucunarés:
1. Cichla monoculus (Spix & Agassiz, 1831); tucunaré-amarelo, tucunaré-popoca
2. Cichla ocellaris (Block & Schneider, 1801); tucunaré-amarelo
3. Cichla temensis (Humboldt, 1821); tucunaré-açú, tucunaré-paca
4. Cichla orinocensis (Humboldt, 1821); tucunaré-borboleta
5. Cichla intermedia (Machado-Allison, 1971); pavón, royal-pavón
6. Cichla nigromaculata Jardine, 1843; tucunaré
7. Cichla melaniae (Kullander & Ferreira, 2006); tucunaré
8. Cichla mirianae (Kullander & Ferreira, 2006); tucunaré-fogo
9. Cichla kelberi (Kullander & Ferreira, 2006); tucunaré-pitanga
10. Cichla piquiti (Kullander & Ferreira, 2006); tucunaré-azul
11. Cichla pleiozona (Kullander & Ferreira, 2006); tucunaré-amarelo
12. Cichla jariina (Kullander & Ferreira, 2006); tucunaré
13. Cichla pinima (Kullander & Ferreira, 2006); tucunaré
14. Cichla thyrorus (Kullander & Ferreira, 2006); tucunaré
15. Cichla vazzoleri (Kullander & Ferreira, 2006); tucunaré-açú, tucunaré-paca
Esse dá foto que postei foi pego no Rio Grande, é um amarelo, mas que lembra muito o pitanga lembra, mas pelo que sei não há relatos do pitanga no Rio Grande. O C. Kelberi é o pitanga, segundo essa tabela.Acredito que O C. pleizona seria o amarelo do Guaporé.
Abração!
Leandro Vitorino
Leandro, Acabei de ler o artigo.
ResponderExcluirBelas palavras.
Sensacional!
Um grande abraço a você, e ao amigo Eduardo o qual tive o prazer de pescar esse final de semana!
Excelentes matérias.
Bernardo
Bernardo,
ResponderExcluirObrigado pelas palavras.
Já combina com o Eduardo aí pra vcs virem aqui em abril de 2012. pq vou ficar dois meses fora de Goiâia e só volto em novembro com muito trabalho,ok!
Vadeo...rio acima...mosca seca...muita pirapitinga...
Espero por vcs!!
Att,
Leandro
Oi Leandro,
ResponderExcluirA descrição da taxonomia mais recente dos tucunas está em: http://www.faunabookshop.com/a-review-of-the-south-american-cichlid-genus-cichla-with-descriptions-of-nine-species-teleostei-cichlidae-ichthyological-exploration-of-freshwaters-volume-174/
Eu tenho o artigo inteiro, caso vc queira...me passe seu email, é meio grandinho...rs
Eu fiz o mestrado com os tucunas de Volta Grande (rio Grande) e na época os chamei de Cichla monoculus, mas depois do artigo e das descrições o nome da espécie é mesmo Cichla kelberi. O tucunaré azul ficou como Cichla piquiti.
O pós doc eu fiz com a pirapitinga (Brycon opalinus) que vc gosta tanto de pescar, coletei no Parque Estadual da Serra do Mar (SP) perto de Ubatuba. Tenho alguns trabalhos publicados com a reprodução e alimentação da espécie e outros ainda na gaveta. É um peixe incrível e ameaçado.
Tenho alguns trabalhos com tucunarés também, alimentação, reprodução, canibalismo, pesca, etc.
Gde abraço
Leandro Muller Gomiero
Muito obrigado Xará por trazer essa informação atualizada sobre os tucunas, ainda mais sabendo que é sobre a Volta Grande, é de lá que vem meu maior arquivo fotográfico de tucunas. Por favor, me mande o arquivo para leandrocvitorino@hotmail.com assim como os das pirapitingas,ok!
ResponderExcluirAs pirapitingas que vc coletou são da Bacia do Paraíba do sul (B. opalinus) essa nossa aqui é a nattereri). Realmente gosto muito desse peixe!!
Fique sempre a vontade para comentar e nos enriquecer com informações!
Muito obrigado pela visita e pela contribuição!
Att,
Leandro Vitorino
Linda matéria!!!
ResponderExcluirConheço algumas represas do Grande. Infelizmente é uns dos rios mais sofridos do Brasil. Do leito original sobrou muito pouco!
abração!!!
Luiz Logo
Poisé Luiz,
ResponderExcluirInfelizmente o Rio Grande tá castigado mesmo...
Mas serve como exemplo de como não se deve fazer...
Hidroelétrica destroi a biodiversidade do rio...
Abração!
Leandro