sábado, 9 de janeiro de 2010

Cerrado: Território do vadeio brasileiro. (Parte II)

-->
Por: Leandro Vitorino e Rafael Pacheco
...Continuação
Equipamento ideal:
1) Vara:
As varas mais indicadas são as de número 2 a 4, com ação moderada ou lenta. As varas de bambu, embora possuam, na maioria das vezes, ação muito lenta, poderão deixar sua pescaria mais prazerosa, principalmente nos locais com fartura de lambaris.
Alguns acreditam que varas acima de 8’ são mais difíceis de serem trabalhadas em locais fechados, outros não vêem da mesma forma e até preferem varas mais longas (acima de 8’), pela facilidade dos casts. Pessoalmente, acredito que as varas entre 7’ a 8’ sejam uma boa opção. O importante mesmo é nos dedicarmos a fazer loops fechados. 
Quando estamos em locais de correnteza mais lenta e com menor quantidade de obstáculos naturais, podemos trabalhar com equipamentos mais leves que os citados acima.  Porém, quando em locais com muita estrutura, a força e a destreza da pirapitinga, que certamente usará esses obstáculos a seu favor, dificultarão o trabalho com esses equipamentos.
Como estamos vadeando e levando apenas um único equipamento conosco, o ideal é que escolhamos uma vara que sirva para o máximo de situações e adversidades encontradas, mas sem que percamos a esportividade do peixe. Nesse caso um equipamento #3 seria o mais adequado.
O equipo #3 é o mais recomendado para “Piri”.                               
 Foto: Leandro Vitorino

2) Moscas:
Foto: Leandro Vitorino
2.2) Moscas molhadas/ lastreadas: são bem produtivas para as pirapitingas. Preferencialmente atadas em anzóis #10 e # 12, sendo que para os tamanhos menores é indicado que se use anzóis do tipo 2XL (Haste longa). Moscas atadas em anzóis menores terão dificuldade de se fixar na boca da pirapitinga ou poderão ser “enxarutadas”, deixando seu tippet em contato com a dentição do peixe.
Aqui vão algumas moscas lastreadas que receberam vários ataques: Black nymph (stonefly, damselfly e mayfly nymph), pâncora morta, pâncora viva, bead head prince nymph e wolly worm. Várias ninfas que não foram citadas acima provavelmente também apresentariam boas ações. Ainda estamos em fase de descobertas e implantação do fly em Goiás. Aqui é um ótimo laboratório.
Os puristas que me desculpem, mas vou me atrever em dizer que uma das moscas que obtive mais capturas foi o “Pouca família” (nome regional), mosca que lembra um marimbondo típico do cerrado que forma colméias com poucos indivíduos. Não sei se a sua boa quantidade de ações foi conseqüência do seu uso excessivo, mas é com grande alegria que atei e aprovei esta mosca.
Pirapitinga capturada com o “Pouca família” (anzol #10).                    
 Foto: Rafael Pacheco
2.2) Moscas secas: Parachutes, Elk Hair Caddis, Royal Wulff, Cripples, Stones, Spinners e moscas que imitam animais terrestres: Ants (que imitam formigas), Chernobyl, Hoppers (que imitam gafanhotos), Cricket (que imitam grilos), Beetles (que imitam pequenos besouros) são moscas que não podem faltar na Fly Box do mosqueiro que aprecia um belo ataque na superfície. Quando atadas com materiais de cores claras, as Dry Flies (moscas secas) são mais facilmente visualizadas enquanto descem flutuando. 
A Dry Fly (Parachute) descendo a deriva gera bastante expectativa.        
  Foto: Olímpio Vitorino                          
3) Linhas:
Linhas floating (flutuantes), no formato WF, são igualmente indicadas para iniciantes e também para os veteranos, por sua facilidade de trabalho e eficiência.
Ainda não usamos linha no formato TT (Triangle Taper) ou DT (Double Taper), mas como o cast (arremessos) mais utilizado, pelas condições de espaço, é o rool cast (“erremesso rolado”) e que também precisamos de apresentações delicadas, pensamos que tais linhas serão mais adequadas para esse local.
            Acreditamos também que as linhas sinking (afundantes) classe II ou até mesmo a III possam ter resultado positivo na pescaria com ninfas, uma vez que a maioria dos trechos do rio apresentam águas rasas e rápidas.
4) Leader:
Esse sempre foi e sempre será um ponto polêmico em todas as rodas de conversa entre mosqueiros.
Quando a equipe GO FLY iniciou a exploração dos rios da região, utilizamos líderes mais longos, com até 3 metros, e tippet até 0,14mm de nylon, tudo isso para que nossas moscas atingissem maiores profundidades e para que o peixe se sentisse mais confiante em atacar a mosca. Mas com o passar do tempo encontramos locais bem rasos com excelentes pirapitingas, também acabamos perdendo alguns peixes com a quebra do tippet e percebemos que não era só a questão do tamanho ou de espessura do líder que deixavam as pirapitingas tão ariscas assim. O barulho durante aproximação e a perda do peixe na fisgada ou durante o trabalho comprometiam muito mais as capturas. Tive a quebra de um tippet de até 0,28 mm (Obs.: não costumo utilizar tippet tão grosso assim, mas nessa ocasião havia consumido todo meu tippet pela constante troca de moscas e estava impossibilitado de recompô-lo). Assim, como os demais Brycons, as pirapitingas possuem uma dentição forte e afiada, portanto, independente se o seu tippet for de 0,28 mm ou 0,12 mm ele irá romper quando a linha for mordida pelo peixe, mesmo que o trabalho do mosqueiro seja excepcional. O uso de empate de aço ou algum fio opaco como shock líder não é indicado, pois reduzem significamente as ações. Por isso, o fator sorte também deve estar presente e devemos torcer para que a mosca se fixe bem à boca do peixe e que o tippet fique fora do alcance de sua dentição. Devemos levar em conta que o tippet também pode ser levado pelo peixe para uma pedra mais afiada ou porosa. Devemos, então, ter o cuidado de avaliar constantemente nosso líder e renová-lo caso esteja desgastado.  
Hoje, particularmente, acredito que um líder cônico de nylon com 2 metros de comprimento e com tippet 0,20 mm de fluocarbon seja seguro, fácil de ser trabalhado e possua uma boa eficiência. Mas como estamos em constante aprendizado e sofrendo diversas influências da literatura e do meio ambiente que somos expostos, as preferências técnicas podem sofrer alterações/adaptações. Outros colegas da equipe, como o amigo Rafael Pacheco, possuem outras preferências que apresentam a mesma eficiência, mantendo seu líder mais longo e tippet de pequeno diâmetro (0,14 mm).  Acho ainda muito precoce decidirmos com exatidão qual será o leader mais adequado, vamos a mais testes...
Independente do desejo ou crença do mosqueiro, todas as idéias devem ser respeitadas e não devem ser alteradas caso tenham uma boa eficiência ou razão lógica para seu bom funcionamento. São nossas diferenças que fazem com que tenhamos uma identidade própria e o respeito que faz com que pessoas tão distintas sejam amigas.
Continua...

2 comentários:

  1. Belo relato ...
    Preciso vadear nessas águas novamente !!!!

    abraços !!!!

    ResponderExcluir
  2. Muito legal esse relato.
    Não conhecia a pesca de pirapitinga na modalidade do fly. E ainda mais pescando em um local paradisíaco como foi mostrado.
    Parabéns pelo relato.
    E que você continue nos contemplando com esses relatos e informações.
    Um abraço

    Edson Kurokawa

    ResponderExcluir